O Dia Em Que Os Alienígenas Quase Seqüestraram
O
Cristo Redentor


    O Cristo Redentor, belíssimo cartão postal de trinta e oito metros de altura do Rio de Janeiro, já foi seqüestrado três vezes desde a sua inauguração no dia 12 de outubro de 1931, precisamente às 19 horas e quinze minutos, quase dezesseis.
    Na primeira vez, foi logo no ano seguinte, um grupo de escravos muito chateados com o rumo que algumas coisas tomaram, se reuniram em um lugar próximo ao forte de Copacabana e conseguiram deslocar a estátua alguns metros, curiosamente com a ajuda de alguns membros da Igreja Batista que eram contra a construção do monumento. Preocupados com o rumo que esse “quase-seqüestro” poderia tomar, as autoridades resolveram dizer que o motivo de tal deslocamento, fora para a manutenção e substituição da iluminação. Desculpa parecida foi dada em 2000, quando alguns loucos, com medo do tal final do mundo na virada do século, resolveram tentar lapidar algumas lascas da pedra em qual o monumento fora esculpido, a fim de tentar alguma espécie de milagre e por que não, proteção Divinal.
    Mas da terceira, ninguém ouviu falar. E essa é a breve história deste terceiro quase seqüestro de uma das sete maravilhas do mundo. O dia em que alienígenas com uma grave crise de acne, invadiram o Rio de Janeiro para vingar seu orgulho ferido.
    O ano era o de 2012. Ano que segundo calendários da civilização Maia, o planeta passaria por um clima do crioulo doido, e tudo que conhecemos como sombra e água fresca iriam se tornar o mais bravo caos da história. Caos ainda pior que perder de três à zero na copa da França por que um jogador tivera um piriri.
    O clima andava estranho. Onde era quente, fazia frio; onde era frio, fazia calor; e onde tinha gelo faziam-se os cobertores mais macios e quentinhos do planeta. A civilização estava com medo. Medo do desconhecido, pois no início de dezembro de 2012, algo entrou na atmosfera do planeta. Só que ninguém viu... a civilização estava com medo pois diversas pessoas estavam se suicidando com o chegar do fim dos tempos.
    Apenas duas pessoas, dois rapazes de dezoito anos, malucos por tecnologia conseguiram ver o objeto voador não identificado pousar na base das pedras da Praia do Arpoador. Jorge e Rômulo estavam sentados próximos à água, sem o menor medo de serem levados pelas ondas que batiam nada suaves contra as pedras. Eles não estavam simplesmente sentados observando a imensidão do mar e pensando se existiam sereias. Viciados como eles só, ambos seguravam seus baseados enrolados em guardanapos de uma loja de comida rápida que tinha um palhaço pedófilo como mascote. Jorge viu uma coisa estranha sobre as águas. Mas achou ser o “barato”. Mas Rômulo olhou mais atentamente e viu que realmente havia algo sobre a água. Era como olhar para o asfalto em um dia muito quente de sol intenso, e ver aquela distorção causada pelo calor. Parecia que havia algo sobre as ondas.
    De repente, uma enorme coisa oval pairou sobre eles e por fim, pousou na base das pedras, já nas areias da Praia do Diabo, “point” preferido dos surfistas. Os amigos de fumo se olharam e sorriram. Sem largarem os cigarros, os dois correram mal sentindo seus pés tocarem o chão. Conforme iam se aproximando, podiam ouvir um zumbido parecido com os das bobinas dos aviões. Algo suave, porém ensurdecedor. Jorge tropeçou em uma rocha e caiu. Devido as gotículas de mar, foi deslizando com sua barriga até a porta do tal objeto oval não identificado.
    Rômulo foi se aproximando devagar. E com os olhos vidrados naquele objeto. A idéia de comprar maconha em um outro local parecia ser o acerto do ano, merecedor até de, quem sabe, um prêmio Nobel da paz. Afinal, no ano de 2009, qualquer um estava levando o prêmio. A porta do objeto foi se abrindo. De dentro dele saíram três seres muito estranhos. Eles eram esverdeados e cabeçudos. Tinham mais ou menos um metro e meio de altura, e andavam arrastando as pernas, como os pingüins, aqueles pássaros porcos que, frustrados terem algo parecido com asas mas não voarem, resolveram inventar o deslize de barriga, e a mania de comer o próprio cocô. Devagar, Jorge foi se levantando e assobiando a música de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”. Se no filme havia funcionado como forma de comunicação com aliens, por que não tentar naquele momento? Lhe parecia oportuno.
    Os seres apareceram mais ao chegarem ao foco da luz do forte refletor da praia. Possuíam pequenas feridas na pele e na região da cabeça, e se coçavam como cães sarnentos das ruas de Barcelona. Um deles abriu a mão para os dois amigos e fez o cumprimento alienígena da série “Jornada nas Estrelas”, aonde se cria um espaço entre os dedos anelar e médio. Aos poucos os aliens, que curiosamente tinham cinco dedos, abaixaram todos os dedos deixando apenas o médio.
    -Foda-se terráqueos!- disse um deles cuspindo uma gosma verde na rocha próxima aos pés de Rômulo.- Viemos em guerra e vamos levar o Cristo Redentor! O que acham disso, hein?
    Os outros dois seres esquisitos sorriram e bateram as mãos em comemoração ao que o outro alien havia dito. Feito isso, se aproximaram dos amigos e enfiaram a ponta de suas pistolas modernas no nariz dos dois. Mas antes, se coçaram. Jorge e Rômulo sabiam que tinham que sentir medo naquele instante, mas o “barato” não os deixava pensar em medo. Nem sequer sabiam o que significava ter medo. Sabiam que devia ser algo semelhante a ir deitar ao lado da Xuxa e acordar ao lado da Hebe Camargo... Sem maquiagem!
    -Estamos cansados de nos vermos retratados em filmes como vilões. Vocês acham que só vivemos disso? De invadir planetas? De sei lá...de matar humanos? Somos auto-sustentáveis. Temos planetas reservas. Temos humanóides que trabalham para a gente. Que imagem querem passar de nós?Hein? Meu filho esses dias me perguntou se já matei um humano, se já destruí um país... O que eu respondia? Hein?
    -Mas senhor, quem faz esses filmes são os americanos. Eles que ficam fazendo filmes de invasões interplanetárias. No fundo acho que na verdade, eles que tem a vontade de invadir outros países e ficam usando metáforas com esses filmes...
    Um raio fechou a boca de Jorge. Aliens não gostavam de conversa.
    -Sempre vilões. Sempre querendo matar alguém. E aí, quando fazem um filme legal, a nossa gente é retratada como monstrinhos que colhem frutinhas coloridas e andam de bicicletas na lua. Estamos cansados! Vamos roubar os monumentos desse planeta e dar a vocês o que colocarem nos filmes!
    -Eu gostei de “Marte ataca!”- citou Rômulo quase recebendo um “raio-fechador-de-boca”, mas devido aos dois anos de capoeira, desviando a tempo.
    -Filme ridículo também! Alienígenas andando de cueca por aí! Usando armas obsoletas! Não somos isso. Somos seres à beira da extinção. Por acaso vocês sabiam que nesse instante, nós ETs super inteligentes estamos passando por uma das piores crises do universo? Tudo por causa de nosso Deus superior que fez nossas fêmeas com o “evacuador” respiratório justamente no mesmo local do órgão de reprodução. Ou seja, toda vez que vamos transar para reprodução, (e não só por prazer como vocês pervertidos), nossas fêmeas morrem sufocadas. Estamos perdendo nossas mulheres!
    -Tu está dizendo que as marcianas respiram por “lá”?-perguntou Rômulo apontando na direção de seu órgão sexual intocado até então.
    O alien concordou com a cabeça e com um olhar tristonho de decepção.
    -E pára com essa mania de marciano. Somos do planeta Rodóviti. Nem vida em Marte tem. Nunca teve! Vocês estão caçando chifre na cabeça de cavalo.
    Um dos seres, aparentemente o mais caladão, se aproximou. Sua voz era robótica.
    -Escolhemos o Rio de Janeiro por que ele quase não aparece nos filmes-catástrofes. Sempre tem Nova Iorque, Índia, Washington... Mas nunca o Rio. Então começaremos por aqui, depois aquela torre inacabada na França e por aí vai.- disse o ET coçando sua cabeça e insistindo na coceira.
    -A gente também acha um erro de Deus a colocação dos órgãos reprodutores próximo aos órgãos defecadores. É nojento. O bom é que ninguém morre...
    -Por isso iremos levar o Cristo para nosso planeta. Na falta de mulheres, vamos encher Rodóviti de monumentos terrestres. Talvez isso chame outras civilizações e com eles venham mulheres com órgãos reprodutores em outros lugares. –disse o líder coçando sua orelha com seu pé esquerdo causando inveja e uma certa admiração em Rômulo.
    Rômulo reparou a coceira dos aliens. Era estranhamente familiar. Nesse instante, enquanto ele observava o coça-coça, pôde ver uma pequena partícula branca se desprender da cabeça de um deles e voar até a ponta de seu nariz. Aquilo parecia algo familiar para ele. Depois uma estranha bolinha branca saiu de uma das erupções na pele verde do bicho. Eles tinham um enorme problema de acne.  Espinhas eram inconvenientes até além dos confins do universo.
    -Se eu disser que posso ter o controle e até a cura para esse probleminha de vocês, vocês deixam a gente ir embora fumar nosso baseado e deixam o planeta sem levar o Cristo?
    -Posso levar pelo menos aquela estátua de Nova Iorque?
    -Pode...
    -Então feito. Por favor, nos diga como curar esse nosso mal!- Pediu o alien mudando sua expressão de ódio grotesco, por uma expressão mais amigável de apresentadores de programas infantis, só que menos retardados. -Todo mundo na galáxia ri da gente. Chamam a gente de cactos lunares. Nosso planeta é a piada do universo. Todos nós temos essas erupções na pele. Acho que é o clima seco de Rodóviti...
    Rômulo os levou até uma farmácia. Os três ficaram de guarda enquanto os dois amigos terráqueos roubavam todo o estoque de creme para o tratamento de espinhas. Ao saírem da loja, foram até outras mil farmácias. Ao final do dia, a nave dos aliens estava repleta de creme para acne.
    -Viraremos heróis. Seremos lembrados por toda vida em Rodóviti! Há algo que possamos fazer, além de deixar seu planeta e sua maconha em paz?
    Os amigos se olharam com aquele olhar de “Lá vem mais confusão” e sorriram.


             Rio de Janeiro, 1965.
    -Você acha que essa história fará sucesso, Rômulo? Ficou pequena demais, muito corrida.
    -Claro cara! É totalmente novo! “2001- Uma odisséia no espaço” ainda não estreou. “Guerra nas estrelas” ainda está sendo escrita ser der mole! E “Independence Day” ainda nem foi pensado nem formalizado. Seremos os pioneiros com histórias alienígenas.! Não se preocupe com tamanho. A era dos grandes e longos épicos já passou.
    -Mas e se nos encontrarmos no futuro? Tipo voltamos pro passado quando nem havíamos nascido. E se eu me encontrar comigo mesmo e quiser me matar? Tipo, meu eu do futuro vai achar que sou um clone. Se eu matar meu clone, é considerado suicídio?
    -É, isso seria um problema né,Jorge? Mas acho que até lá já estaremos mortos.
    -Mas e nossa família? Se a gente não chegar lá, como nossos pais terão a gente se a gente já morreu no passado?
    -Isso é algo que está além do nosso conhecimento. Como dizia meu pai: “...


             Trinta minutos depois...
   
-...”Entendeu?
    -O que,Rômulo?
    -O que meu pai dizia...
    -Mas você não falou nada. Você disse “como dizia meu pai...” aí ficou olhando para a parede com um sorriso de maconheiro e nada!
    -É...Meu pai nunca foi de falar muito. Mas desencana. Vamos ficar ricos com filmes sobre Ets. E saberemos que o Cristo nunca será roubado. Não por ETs...
    -É, vamos curtir nossa maconha e aproveitar a década de setenta, né? Afinal é quase tudo liberado!
    -Isso aí! Quem diria que a chata das espinhas, essas inconvenientes iriam nos ajudar, né não?
    E os dois continuaram escrevendo histórias sem nexos sobre aliens, de uma maneira que até hoje reflete nas salas dos cinemas...



                                                           FIM
               (Mas pode ser que continue...)

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 15/10/2009
Reeditado em 10/06/2013
Código do texto: T1868745
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