DIETA CIVIL (tercetos ou poetrix)

O advogado

alimenta-se de ações

transitadas em julgado.

O médico de plantão

faz das tripas o coração.

É esta a sua refeição.

O professor

come pó de giz,

e o próprio suor.

O pedreiro

devora pedra, areia e cal

o dia inteiro.

O juiz interroga, interroga.

Quando tem fome,

come o martelo e a toga.

O prefeito

chupa os impostos

como se fossem confeito...

O goleiro:

come frangos

e vira frangueiro.

O gari

degusta o que sobra

aqui e ali...

O pescador de anzol,

na falta do peixe,

devora a isca e o próprio sol.

O deputado

promete ouro, prata e cobre:

e devora o voto do pobre.

O padre da matriz

bebe vinho, come pão

e empina o nariz...

O jogador de futebol de areia

come a bola

e o próprio pé-de-meia.

O presidente da nação

degusta prestígio, bebe discursos

e arrota o texto da Constituição.

Para o ator não há problema:

devora o script e come a mocinha.

É mesmo um artista de cinema.

O gerenciador de obras,

para construir casas e pontes,

engole lagartos e cobras...

O político vive de safadeza,

a viúva come pranto

e o pobre só na dureza.

O dono do bingo

come o lucro estampado

nas cartelas azaradas de domingo.

O agiota é um banqueiro

que se alimenta do juro

e do seqüestro do seu dinheiro.

Sem alvoroço,

o pai de família

faz da vasilha o seu almoço.

Já o mecânico, bêbado e confuso,

bebe a chave de fenda,

engole a porca e o parafuso.

O bombeiro destemido,

come fumaça e fogo

e toda a sorte de perigo.

E você, meu amigo,

na hora da fome

o que acontece contigo?

(criações de José de Castro, inéditas.) José de Castro é autor de QUEM BRINCA EM SERVIÇO - textos de humor, publicado pelas edições Sebor Vermelho, Natal/RN, 2003 e lançado na Bienal Nacional do Livro de Natal, nesse mesmo ano)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 27/07/2006
Reeditado em 13/08/2012
Código do texto: T203067
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