Molecagem

Molecagem

=========ErdoBastos,

Eu era o moleque faz-tudo do mercadinho. Aquela hora da tarde, estava meio faz-nada, dando uma descansadinha, recostado numas caixas, lá nos fundos. Foi quando o patrão me chamou.

E eu fui, claro. Podia não ir? Hã!

Entrei na porta de ligação com a frente do mercado, perguntando o que o patrão queria comigo.

Ele foi falando, mas eu não ouvia mais nada... tinha visto ela. Parada no canto da porta, de frente pra rua e balançando o pé, como quem está com pressa, ansiosa.

Num esforço, consegui entender um pouco do que o homem falava... algo sobre levar as compras, acompanhar a moça.

E eu fui, claro. Podia não ir? Hã!

O patrão avisou a moça, todo gentil e sorridente, fez um sinal pra mim, e eu botei as pernas pra funcionar. Fui empurrando o carrinho, seguindo ela...

20 e poucos anos, eu acho. Bem alta, grandona mesmo. Pele bem clarinha, cabelos loiro-escuro. Loira, mas com bunda de negra. Arrebitada e balançante... bonita de acompanhar.

Descemos a rua inteira e dobramos a direita, em direção as casas dos ricos, lá fora da vila.

Percebi o caminho e a distância, e comecei a cismar... tanto mercado bonito e rua asfaltada aqui perto, porque que a moça foi comprar logo lá, no mercado da vila?

Mas a bunda dela, balançando na minha frente, não me deixava pensar muito...

A saia era comprida, mas tinha uma abertura meio exagerada no lado, e fazia eu ficar torcendo pra dar um vento do jeito certo, pra ela se abrir e mostrar... as pernas da moça.

Compridas as pernas dela, davam passos apressados, faziam a bunda balançar mais ligeiro e me faziam andar mais depressa, debaixo deste solzão que me mata.

E cansa, viu...mas olhar pra ela não, isto não cansa. Nenhuma vez ela olhou pra trás.

Atravessou a rua antes da esquina, de improviso. O motorista do carro que passava teve que frear um pouquinho e xingou ela, baixinho, delicado, falou “gostosa”... jeito de xingar de rico. Fosse lá na vila e o carroceiro dizia, até pra moça bonitinha assim, era um belo dum palavrão e saía dando risada... falta de educação.

Ela chegou do outro lado e abriu o portão, foi indo pelo pátio adentro, sem olhar pra trás, abriu a porta e entrou deixando-a aberta... e eu cheguei.

Claro que eu demorei, que de mim o cara do carro, com toda educação de rico dele, passava por cima, e eu parei.

Claro que eu parei. Podia não parar? Hã!

Fiquei com receio de entrar assim, direto... parei um pouquinho na porta, e resolvi dar uma batidinha no botão da campainha, que eu achei que era melhor, mais educado de fazer... e parecia que eu tinha apertado o botão do rádio, porque ela falou “entra moleque” e a voz dela era musica... macia e linda, calma e suave.

E eu entrei, claro. Podia não entrar? Hã!

Tirei as compras do carrinho, e fui entrando com as sacolas na mão, pesadas. Tinha um sofá todo branco, um tapete comprido e vermelho que passava pela porta no fim da sala, e tinha uns barulhos de louça batendo na cozinha, quando eu fui chegando. Ela estava de costas.

Estava mexendo na pia, lavando alguma coisa... e aquela bunda dela balançando.

Ligou o rádio de novo, dizendo pra botar as compras em cima da mesa, menos a comida do cachorro, que era na garagem. Coloquei as compras de casa na mesa, como ela mandou, peguei a comida do cachorro, que era pra botar lá na garagem, e fui dançando...

Claro que fui. Podia não ir? Hã!

Tirei o saco velho, que estava quase vazio da prateleira, coloquei o outro novo, fechado, embaixo, e o saco com o restinho de volta, em cima do novo. Faço as coisas direito, sim. Gosto de ganhar “muito obrigado” e elogio.

Claro que gosto, ué! E podia não gostar? Hã!

Voltei pelo pátio, na direção da porta da cozinha, que pela música, eu já sabia que pelo portão do lado não sai. E quando entrei na cozinha, ela estava de frente.

Pela primeira vez, eu enxerguei os olhos azuis dela. Meu Deus do céu... ela estava sorrindo, toda simpática.E enquanto eu baixava os olhos, com educação e espantado, fui vendo tudo.

Claro que olhei. E podia não olhar? Hã!

Tinha um banquinho do lado da pia, e ela tinha um pé em cima dele, o outro no chão.

E eu não acreditava que tinha visto direito, e fui levantando de novo o olhar, atarantado.

A aberturinha que tinha na saia, assim, ficava uma janela, de frente pro paraíso... onde tinha um mar de ondas douradas, convidando a um mergulho. Fui levantando os olhos, e vi a barriga dela, de umbigo bem pequeninho, branquinha como areia de praia de cartão postal.

E a blusa verde dela, só com o último botão fechado, me deixou descobrir uma coisa importante. Duvido que mais alguém na vila saiba disso. Moça rica e linda, branquinha assim, não usa sutiã... deixa os peitos soltos dentro da roupa, e quando a blusa se abre assim que nem a dela tá aberta... a gente fecha os olhos! Meu Deus do céu!

E eu fechei, claro. Podia não fechar os olhos numa hora dessas? Podia? Hãhã!

Tocou uma musiquinha, quando eu estava ali duro que nem uma estátua, uma musiquinha que parecia um canto de sereia, dessas que falam e dão risadinha ao mesmo tempo, que nem fadinha de desenho animado cantando... dizendo pra mim que eu tinha que chegar lá pertinho, que eu tinha que tocar naquilo tudo, que eu tinha que fazer ela delirar apertando as tetas, agarrando a bunda dela... Inacreditável isso!

E eu não fui. Claro que não fui. Podia ir? Hãhã!!

Se eu tava duro que nem estátua, se não conseguia nem pensar direito, se não tinha nem certeza se estava entendendo direito o que ela tava cantando ali, naquela voz de musica dela...Podia? Hã!

De olhos fechados, durinho, parado no meio da cozinha, com a mão direita segurando o queixo e a outra nem sei onde, eu sentia ela se aproximando, o volume da música aumentando, o cheiro dela me entrando... e a mão dela no meu peito.

Num espasmo, quando ela me tocou, eu dei um passinho pra trás. Todo arrepiado, o corpo suando que fazia um calor de lascar, a boca seca de sede e de estupor, as mãos perdidas, desaparecidas, eu não conseguia encontrar nenhuma das duas com o pensamento, tinha botado as mãos, de tanto medo, em algum lugar que eu esqueci na hora...

E o cabelo dela, abanado pelo vento encanado entre as portas abertas, tocou nos meus olhos que eu ainda não conseguia abrir, mas que já viam uma luz forte, que nem a do sol lá fora. E começou a tocar de novo no meu peito, com mais força, e o vento foi batendo os cabelos dela no meu rosto, aquele perfume foi me invadindo... e eu abri os olhos, os peitos dela, soltos dentro da roupa e colocados bem na frente da minha cara, se movimentando, duros e lindos, bem na minha frente, balançando porque ela estava com um lenço perfumado na mão, e me abanava dizendo, com aquela música na voz... Acorda! Moço, acorda! Tá passando bem? Moço!... e eu acordei. Tinha desmaiado e caído no chão...

E com um sol daqueles, pobre e mal alimentado, cansado do jeito que eu ando, podia não desmaiar? Podia? Hã!