Cangalheiros em ralação
Na vila onde vivo, elevada a cidade há poucos anos, tenho uma relação com os cangalheiros engraçada. Devo ser o único habitante que eles não querem que morra.
Explico o porquê da ralação (risos).
Tenho 1.96 de altura, quando bater o pernil, segundo medicina legal, aumento entre 15 a 20 centímetros. Não vou precisar, pois não sei o valor correcto. O aumento sofrido no meu corpo obriga a um caixão exagerado, quase de 2, 25 cm. Já pensei em instalar um mini bar, com aperitivos. Nunca sabe para a viagem (risos).
Visto não haver em stock uma mortalha para o meu tamanho, então brinco com os dois cangalheiros, instalados ao cimo da rua. À esquerda tem um e à direita outro. Com qual dos dois cruzar primeiro pergunto sempre:
- O meu caixãozinho está a andar. Não fazem saldos?
O Sr. M., o agente funerário, do lado esquerdo, faz uma cara feia e pede:
- “Ó Sr. Alcobia, nem brinque. Seria terrível arranjar um caixão para si. Até depois de morto, o Sr. Alcobia continuava a ser um sarilho”.
O outro cangalheiro, o do lado direito, diz:
- Isso não é problema. Corta-se às pernas para caber.
De assinalar que, após a minha vinda aqui para o burgo, curiosamente mudaram o lema dos cangalheiros locais, de:
- “Não quero que ninguém morra, quero apenas que a minha vida corra”;
Para:
- “Não quero que o Kadú morra, senão é uma grande porra!”.
Valha-nos Deus. Tranquiliza-me saber que aqui onde vivo há pelo menos duas pessoas que não querem que eu morra (risos).