Saaaaiiiiii  Perereca!

Essa tragicômica história, aconteceu num carnaval, anos atrás... 
Tudo começou com a minha idéia de alugar uma casa para o feriado, 
sem ter visto nem  fotos  dela...

Fomos alegres e faceiras, eu e minhas irmãs, Sarah e Marilda 
com o noivo Marco, meus filhos e cachorrinha, preparados para 
pular os quatro dias de carnaval (minto, nunca pulei, mas gosto 
de bagunça e festa rss)  A alegria começou a dissipar-se na 
dificuldade para encontrar a bendita casa, descrita pela dona 
como MARAVILHOSA, perto da praia e com muito verde...

(É... Até demais...)

Procuramos sob o sol escaldante de fevereiro... E nada!
Na verdade passamos por ela várias vezes, mas eu não queria crer!
A casa era a última da rua, ao lado de uma reserva florestal,
habitada até por lagartos!  Diante do inevitável, e cansadíssimos,
abrimos o portão tentando nos localizar no matagal que chegava 
a quase um metro de altura, o suficiente para de cara, perder minha cachorrinha e iniciar a gritaria:  Nevenkkkkkaaaaaaaaaa, 
pelo amor de Deus,  vem com a  mãeeeee!

Ela veio...  Abrimos a casa (casebre) demos de cara com vários beliches
e uma geladeira pré-histórica, porta amarrada (juro) com um pedaço 
de pano...  Mas eu sou daqueles que não desistem nunca! 
Já que estávamos ali,  em plena noite de carnaval, hotéis e pousadas 
lotados,  uma cachorrinha a tiracolo, com aquele belo limão, 
teríamos que fazer a limonada.  Mãos a obra!!!  
Limpamos e arrumamos o melhor possível, tentando dar um ar mais
 habitável à choupana.   Rsss

Até coloquei nas paredes encardidas uns enfeites de carnaval, 
coloquei uma música alegre, (pra vocês verem a boa vontade!) 
Mas ninguém se animou muito...  A proprietária havia "esquecido” 
mais um pequeno detalhe: Não havia luz na rua,  apenas na casa... 

Loteamento novo,  já viu...       

A primeira noite foi um terror! Nunca ouvi tantos barulhos estranhos!
E o pavor de cobras e aranhas??? Nada de porta ou janelas abertas!
Ventilador???  Não tinha,  senti que morreríamos de tanto calor!
Não fosse a presença reconfortante da Nevenka, estaríamos num
mato sem cachorro!

Eu tentava animar o ambiente, mas só via rostos decepcionados
e com uma ponta de raiva dessa que vos fala, já que havia sido 
a mentora da brilhante idéia... Arrumei um colchão na sala, 
porque o calor no quarto era mesmo insuportável. 

Quem disse que teria PELO MENOS uma noite tranqüila???

Mal fechei os olhos, senti que algo subia pelo meu travesseiro,
imaginei logo uma aranha imensa e peluda. Antes fosse!

Era uma perereca! 

A mais feia e repulsiva que já vi, olhando-me com olhos esbugalhados,
a pedir-me um cantinho, e um pouco do meu afeto...
Dei um grito que deve ter acordado todos os lagartos vizinhos!
Na falta de uma arma mortal, muni-me de um fixador para cabelos,
que pretendia usar em penteados mirabolantes...

É... Pretendia...

Esguichei uma boa dose nela, que caiu dura e seca.
Pensei: Pronto! Estou livre! (Amo os animais, mas dormir com 
aquela perereca  era um pouco demais para mim!)
Como todos já dormiam,  “eu é que não ia pegar o pequeno cadáver! 
Deixei caído ali mesmo!”  Apaguei a luz, e tentei dormir. 

Cerca de uma hora depois.... Novo barulho...

Acendi a luz e... Deus que me livre!

Ela estava novamente sobre o meu travesseiro!
Novo grito, novo jato de spray...
Dessa vez ela resolveu bater em retirada.   Menos mal.
Adormeci e na manhã seguinte, minha irmã Sarah me acorda:

“Tita, você viu que tem uma perereca no teu travesseiro?”
Dei um pulo que desmentiria as teorias sobre falta de flexibilidade
depois dos, digamos, trinta anos. Rssss

*Bendita seja a ginástica, abençoada musculação! Rs

Menos covarde que eu, ela com a vassoura pegou o bichinho infame,
jogou na selva ao lado. Bom, o caso estava resolvido. Em parte...
Depois do café da manhã, restava caminhar os muitos quarteirões 
até a praia,  porque meu excelentíssimo marido detestava a idéia de 
areia no carro novo.  Tinha me avisado: Casa perto do mar, Cintia.
PERTO!  (mas a dona garantiu que era!  E eu acreditei...) Rss

Senhor, era uma jornada! Armados com cadeiras, guarda-sol, isopor,
enfim,  um verdadeiro programa de índio!
Crianças alegres,  adultos nem tanto, a praia era muito mal cuidada
e praticamente deserta.... Aquele caldo parecia entornar cada vez mais,
e eu ali, firme!   Chegou  a segunda noite.

Ficamos em casa, exaustos do vaivém.
Nem me lembrei da perereca e adormeci o sono dos justos.
Nisso o barulhinho familiar! 

Jesus amado, não é que ela havia voltado????

E pior!  Tinha uma forte queda por mim, já que a Sarah e minha filha
Michelly, também não suportaram a sauna do quarto e dormiam ao 
meu lado.    Mas era comigo que ela queria dormir, meu Deus! 
Que sina!!!  (Nevenka para minha surpresa não tomou meu partido, nem
se animou  a defender-me,  preferindo  manter-se neutra...)

Pedi a Sarah, para novamente retirar o bichinho dali, já que não tinha coragem de matá-la, no máximo atordoá-la com meu fixador.
Não adiantou, porque na manhã seguinte, lá estava ela, 
deitadinha ao meu lado. Quando abri os olhos, a  primeira coisa que
vi, foram  seus olhos, fitando-me com carinho....

Olha, nessas alturas, eu já estava tão cheia daquele lugar,daquela 
praia horrível, que nem gritei.  Apenas  joguei a perereca no mato...
Mais praia, mais sol, mais costas ardendo... 
Aquela coisa básica de mãe: Passa protetor em todos e esquece dela... 
Enfim acabou mais um dia. Saímos à noite, voltamos tarde, foram 
todos dormir.  Ao longe se ouvia um trio elétrico, tirando-me o sono.

Eu e minhas irmãs loucas para ir ver, mas quem se arriscava nas
ruas escuras,  se os homens da casa estavam com preguiça???
Dormimos, e no dia seguinte, quase dei bom dia a fiel perereca... 

Que novamente dormia placidamente ao meu lado... 

(Poxa, eu devia ter arrumado um nome para ela!)

Mais um dia de sol e mar...
Mais uma noite,  sorvete e cerveja.  Minha irmã Marilda, 
com um principio de insolação,   medicou-se e dormiu. 
Meus  filhos idem e ninguém se animava  a ir ver o trio elétrico...

Eu sem sono, olhava pela janela...

Ouvindo o cantar dos grilos, naquela casa horrível e sem conforto, 
morrendo de calor e na maior escuridão.... 
A paciência e bom humor já haviam evaporado! Apelei! 

Abri mais uma latinha de cerveja e conclui:

Eu Havia Morrido e Estava Era No Inferno! Rsssss

Longe da euforia que havia vindo buscar, com um bando de gente 
que só sabia comer e dormir, e por companheira uma perereca! 

Ninguém merece!!!

Vocês sabem que situações assim, nos provocam reações estranhas?
Na terceira noite, eu já me sentia mais intima da perereca!
Quase lhe fazendo confidencias.... Como naquele seriado antigo,
disse “Boa noite perereca”, pois sabia que ela viria, era inevitável!
Coisa de pele mesmo! Amava-me! Tenho certeza que também ela
desejou-me lindos sonhos.... Adormeci em paz..

Novo dia, (o último graças a Deus!) 

Mais sol e mar, mais disputas por guarda-sol, mais reclamações,
enfim, aquela confraternização em família... Rsss
Era minha última noite ali, e achei por bem ser gentil com a pequena
visita noturna. Tivemos uma longa conversa, e ela perdoou-me
o fixador. Enfim, ficamos amigas...

Quando dei a derradeira olhada na casa, antes de sair,
levava comigo duas grandes certezas:

Primeira: 
Nunca mais na vida alugaria uma casa sem conhecer.

Segunda e mais importante:
 
Eu até poderia fazer amizade, mas nunca mais dividiria
a cama  com uma perereca...   


__*De espécie alguma!!!!__ Rsss


**Ah, o pior é que a única “licença poética” aqui, 

é  o diálogo travado com a dita cuja!

O resto, infelizmente, é verídico! 


                  


                          
                           
Carinhosa
Enviado por Carinhosa em 11/08/2006
Reeditado em 22/02/2018
Código do texto: T214164
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