NEN E AUGUSTA

Nen é apelido, não sei seu nome. Augusta, sua esposa. Já os conheci com o maldito vício do álcool. Nunca os vi sóbrios.

Nen era excelente pedreiro, dizem, não é do meu tempo. Do meu tempo, só o via bêbado pelas ruas, coitado.

Augusta, sua dedicada esposa, não o deixava andar sozinho, sempre estava com ele, para cima e para baixo, bêbada também.

Fiquei sabendo que um começou a beber para agüentar o vício do outro. Não sei ao certo quem começou primeiro.

Admirava o amor daqueles dois, mesmo com a falta de lucidez, devido à bebida, se amavam. Nen fazia declarações em voz alta, pra todo mundo ouvir: "Augusta, minha flor de maracujá." Era lindo aquele amor!

Um dia Zezão morreu. Amanheceu morto no cômodo de um metro quadrado que morava... Zezão vivia bêbado também.(Em outra ocasião farei questão de contar a história de Zezão.)

Nen, muito chateado, chorando... Imagina, já chorava sem motivo, imagina diante da morte do colega de tantos porres? Do colega que tantas noites passaram juntos na sarjeta... Tanta pinga beberam juntos... Tantas doses divididas...

Nen não chorava, urrava, desesperado.

Augusta como sempre ao seu lado falava para ele não chorara tanto porque ele iria achar a porta do céu, pois ontem não estava tão bêbado assim.

Nen no seu desespero, caindo de bêbado, quis advertir a mulher:

- Augusta, eu não te disse que pinga mata, Augusta...

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 15/08/2006
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