EURÍPEDES

Eurípedes era jovem ainda, deveria ter pouco mais de trinta anos. Não tinha família, tinha problemas mentais e morava no asilo.

Como era cidade pequena, onde todo mundo conhece todo mundo e tinha pouco movimento na cidade, Eurípedes ficava livre para entrar e sair do asilo quando quisesse.

Amava café, saia com sua canequinha bebendo café em todas as casas do bairro.

Todo mundo gostava do Eurípedes, apesar do seu problema mental, era um rapaz que não fazia mal a uma mosca. Vivia sua vida, que era dele só, pois não registrava muito as pessoas.

Ele era muito engraçado na maneira de conversar, pois falava "goianês". (Quem é goiano sabe do que estou falando)

Além de falar "goianês", que é muito engraçado, ele tinha um tom de voz arrastada, então tudo que falava era muito engraçado. Os adultos riam muito dele, mas as crianças, acho que pelo problema de saúde, tinham medo. Isso, culpa dos adultos. Cansei de ouvir mães e pais dizendo para o filho quando chorava: "Vou chamar Eurípedes pra você."

Teobaldo e Zequinha eram irmãos. Tinham comércio na principal rua da cidade, um em frente ao outro. Como era pouco movimento, eles passavam quase o tempo todo de cócoras,(mania de goiano)conversando e mexendo com Eurípedes, fazendo-o falar e riam dele, como era comum, claro que sem maldade, pelo contrário, todos amavam o Eurípedes.

Eurípedes era uma figura muito engraçada. Usava sempre um paletó e gravata, sempre muito limpinho, às vezes resolvia colocar duas, três, ou mais gravatas.

Um dia a mãe de Teobaldo e Zequinha morreu. Estavam todos no velório, chorando, tristes, cabisbaixos, uma tristeza...

Eurípedes chegou, olhou o caixão. Teobaldo estava sentado junto ao caixão. Ele fitou bem Teobaldo e disse:

- Ri agora. Ri agora, bichão. Quero ver você rir agora. Hum. (Tudo que falava terminava com este "hum")

Pronto, todo mundo começou a rir do Eurípedes.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 16/08/2006
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