Operação fraudulenta

Pablo Parábolo conduzia um caminhão contendo horrores de fraldas descartáveis usadas. Quando passou pela fiscalização, alegou que elas seriam objetos de estudo da Universidade. Mesmo tendo em mãos toda a papelada burocrática necessária, os policiais acharam por bem abrir as portas traseiras do veículo. Arrependeram-se: o cheiro de cocô impregnou todo o ambiente, e quando trouxeram os cães treinados para farejar armas e drogas, estes foram traídos por sua própria potência olfativa, ganindo confusos e com o rabo entre as patas.

Aí se comprovava a maneira perfeita de se transportar mercadorias ilícitas, e Pablo ria satisfeito por ser o mentor de tal ideia. O pó chegou em segurança ao depósito, mas ninguém pareceu inclinado a retirar a droga do caminhão. Foi só quando o chefe chegou que o pessoal se mobilizou para separar e empilhar a mercadoria, todos com camisas cobrindo o rosto, agora mais para se protegerem do cheiro do que para parecerem bandidos. O chefe estava muito animado com o sucesso da operação, principalmente porque esta foi a camuflagem mais barata que ela já tinha ouvido falar, o que lhe traria uma margem de lucro magnífica.

Naquela mesma noite o pó já havia sido transportado para todos os cantos da cidade. Só que havia alguma coisa errada. É possível que centenas de pessoas tenham cheirado a droga ao mesmo tempo ou logo em seguida, e as reações foram as mais diversas e estranhas. O fato é que o cheiro de cocô ficou incrustado na cocaína, sendo transferido direto para as vias respiratórias dos drogados. Alguns perderam a razão em meio à lombra e ao fedor, e saíram quebrando lojas e automóveis. Teve quem ficou profundamente desesperado e acabou cometendo suicídio ou matando o fornecedor, sendo morto em seguida pelo resto da quadrilha. Outros se saíram bem e acabaram se regenerando e promovendo campanhas anti-drogas. E teve também os que não se incomodaram com o cheiro e continuaram se drogando, e os que largaram as drogas e agora cheiram somente as fraldas.

De qualquer forma, a venda daquela mercadoria foi abalada, o que deixou o chefe quebrado e furioso. Matou Pablo Paróbolo com o próprio revólver e cancelou a parceria com os outros infiltrados da Universidade. Não queria mais saber de inovações duvidosas de calouros em seu consagrado esquema de fornecimento de drogas.