O SEMINARISTA

O SEMINARISTA

Ainda nos verdores dos anos, já lhe impuseram responsabilidades, nada de brincadeiras, brinquedos só para guris preguiçosos. O gorinho queria soltar pião, pipas, jogar bola, caçar passarinho, brincar com bolinhas de gude, andar descalço. -Nada disso, dizia seu pai. – meu filho vai ser um homem de carater, e se Deus quizer vai ser Padre, um homem de Deus ! as infantilidades não lhe serviriam nunca, vai ser coroinha e depois para o seminário. E tudo se completou. – Com 11 anos o filho estava salvo, “no seminário”. - Ali lhe foi coroada a inocência, tudo era pecado. E, para poder livrar-se do “pecado” teria que rezar muito e fazer penitência. Os padres redentoristas, para dar exemplos aos seminaristas, se ajoelhavam em cima de grãos de milho e ficavam rezando para a conversão dos pecadores. Ele, o Gorinho, inocentemente, os imitava, e ficava pensando consigo mesmo, como não será o inferno ? - Num belo dia, pela madrugada, o guri o “Gorinho” foi acordado por um daqueles temíveis padres de batina marrom, que lhe falou com a voz baixa e engasgada, - Gorinho, você vai pra casa de teus pais e, se tiveres mesmo vocação, você volta. – O Gorinho, ainda assustado, surpreso, chorando disse, - Padre eu quero ser Padre ! foi quando o Padre lhe falou, meu filho eu tambem quero ser Bispo ! - Agora, com 14 anos, já no ônibus de volta ao seu lar, sentindo-se como um passarinho fora da gaiola, se atrevia até olhar para algumas gurias, e pensar no pecado mortal que estava a cometer... - Hoje o gorinho, já homem feito, ainda se vê atormentado em sonhos, reprimido pelos padres de batinas marrom, escapa como pode de todas as igrejas.

Acadêmico Geremias Alves

POETA GEREMIAS ALVES
Enviado por POETA GEREMIAS ALVES em 06/06/2010
Código do texto: T2303716