E eu ainda fui lá...

Essa é antiga, aconteceu quando eu ainda estava com a 3° namorada. Ela gostava, mas não era fanática, por sair a noite. Num sábado desses, sairíamos ela, a irmã, o namorado da irmã, um amigo e eu. O colega estava de carro e de carro é mole se deslocar, iríamos de Coelho Neto até Jacarepaguá, e lá ele encontraria sua acompanhante. Particularmente, eu não concordava com os possíveis intinerários, mas eu era voto vencido e ia fazer uma média com a candidata a patroa.

Chegamos no lugar e era uma boate que já foi badalada, mas que estava começando a decair. A Kokelixo era extremamente pequena, abafada e mal frequentada. O local logo começou a encher, muita gente, muitos fumando e logo os olhos estavam lacrimejando. Era um suplício respirar, todos se acotovelando, pretegi a retaguarda da minha namorada, mas a minha ficou pra rolo. Eu já estava nervoso, meio desconfortável, não dava pra conversar e o calor aumentava. O funk ia martelando sem piedade, axé, pagoede e mais funk, eu já não aguentava.

Num dado momento, um conhecido boiola da tv e rádio foi apresentar a papagaiada. A bichinha gaga chama vários rapazes e várias moças, haveria sacanagem na parada. Na época o hit do momento era um funk que falava de sapo, perereca e rã, enfim as meninas ficavam na posição da rã e os caras embaixo. Ele colocou os caras pra pegarem as meninas no colo, aquele esfregação, meninas de saia, vestido, calcinha enfiada, bunda de fora, até que dessa parte eu gostei. Mas aí um cara vacilou e ele começou a zuar o cara e tal. Passado isso ele chama umas meninas para dançarem funk no palco. As que se habilitaram estavam de short e calça, naquele época as meninas eram mais recatadas (?). Todas lindas, gostosas, até que me vem uma gordinha loira de vestido vermelho. Claro que não ia prestar. Ela começa a rebolar, rebolava direitinho, começa a mostrar a calcinha, ai a galera teve que gritar, a calcinha era aquela bege perolada, a mesma que a vovó tem em casa. Percebendo que seu sucesso estava acabando, ela fica de quatro, vira a rabeta pra galera e rebola mais. Os fundos apareceram e, acreditem, não era bonito. Latas de cerveja, garrafas de água e qualquer coisa que pudesse ser arremessada teve como alvo a bunda da pobre. A galera gritava IH FORA! IH FORA! IH FORA!... Bom, os seguranças tiveram que tirar a criatura do palco, ela se negava a sair. Mas o que dá na cabeça de uma menina dessa?

Pouco tempo depois, saímos da boate jurando que nunca mais voltaríamos lá. Estávamos com os olhos muito vermelhos, cansados e decepcionados com a boate. No caminho pra casa somos parados pela polícia. O cansaço aliado com a fumaça do inferno, fez com que os policiais pensasem que o motorista, o concinhado e eu havíamos fumado maconha.

- Cospe maconheiro!

- Não policial não é nada disso!

- Cadê o resto? Tira o sapato! Sai do carro todo mundo que eu vou revistar!

- Não policial, não é isso. Ninguém aqui fuma!

- Não te perguntei nada, cala a boca porra!

- Bora rapá! Onde vocês esconderam a maconha? Vai dize que fumaram tudo...

- Aqui ninguém usa droga!

- O carro tá limpo! Revista eles e a bolsa das meninas ai.

- Bora tira a meia também! Ta com palhaçadinha de pisa descalso? Anda logo po, mão na parede!

- Também não achei Miranda.

- Mas aqui, olha o selo desse carro, o IPVA tá atrasado.

- Eu já até marquei a vistoria seu guarda, mas é que estou sem o papel aqui. Realmente eu deixei o carro atrasar, mas já to regularizando.

- Mas meu amigo, entenda que se acontece um acidente aí, a culpa é sua. Agente é da polícia, tamos vendo ai que o veículu tá irregulá, é negrigência libera o senhor, mas agente pode conversar. - de maconheiro a senhor em 5 minutos.

- É policial, agente tá ai com as meninas no carro, sem dinheiro pra pegar taxi, não tem mais ônibus...

- Se reune ai com o pessoal e ve o que vocês podem fazer, mas aqui ninguém que tira pão da boca de criança não.

- Po eu to com 50 reais inteiros, vo dá esse mole não.

- Tenho trocado, vamos dar 20 que eles deixam passar. Entra no no carro ai todo mundo, vai só um entregar o dinheiro.

O bolo de notas foi jogado no banco traseiro, dissemos que só havia 20, mas foi o que deu pra levantar, a boate estava cara e coisas do tipo. A viatura saiu cantando pneu, com farol alto e nem querendo daria pra identificar. Tomei pescoção de PM vagabundo, vi a gordinha com a calsinha da vovó, olhos vermelhos e cheiro de cigarro, vários goles de cerveja entornados na roupa....

Não troco meu Boteco do Juca na Lapa por nada!

Amo muito tudo isso!

OBS.: O Boteco do Juca não me fia um chopp ou me oferece bolinho de bacalhau gratuito para que eu fale deles em meus textos.

Símio
Enviado por Símio em 24/06/2010
Reeditado em 24/06/2010
Código do texto: T2338035