UM CAIPIRA EM BRASÍLIA
(Prestação de contas que fiz ao Prefeito de Sabará, de uma viagem a serviço para Brasília)

Vieram me dizer:
_O Prefeito quer te falar.
_Tenho um serviço pra você!
Disse-me ele ao celular

_Uai, Prefeito, é só falar!
respondi desconfiado.
_À Brasília quero que vá
procurar um deputado

Chico Horta é o homem
que você deve procurar...
E eu ao telefone,
escutando ele falar.

Finalizando ele disse:
_Então, você pode ir?
Se pode procure a Janice
para ela te instruir.

Pensei ser brincadeira, juro!
E fui logo aceitando.
Quando vi que era "no duro"
as pernas foram bambeando.

Eu andar de avião,
olhar a terra lá do céu...
Não seria muita emoção
pra um caipira do Pompéu?

Foi um "sim" que quase não disse.
Mas decidi pela viagem.
Fui procurar a Janice
e mandei reservar passagem.

Não tenho nada contra a Companhia
mas quando vi que era pela TAM
pensei: O prefeito bem que podia
ter mandado o Ivan.

Agora era ir ao Pompéu
E avisar a família
pra que olhassem pro céu
quando eu passasse pra Brasília

Gastei uma eternidade
pro pessoal acreditar
quando viram que era verdade
começaram a me zoar.

_Faça uma boa viagem!
_Dê um abraço no Presidente!
_Tire cem cópias da passagem
que é pra mandar pros parentes.

Minha mulher, a gente via:
estava toda feliz
e até já se sentia
a primeira dama do país.

Tomei um banho, sapato novo...
despedi-me da família,
dei "uma banana pro povo"
e me mandei pra Brasília.

No aeroporto enfrentei filas
mas fiz cara de deputado.
Disse pra moça; Sou Silas.
Tenho vôo reservado.

_O senhor tem o código, por favor?
Ela pediu com educação.
E o papel que Janice me deu
eu passei às suas mãos

Com seu jeito "TAM" de tratar
ela me devolveu o papel.
_ O senhor vai me desculpar
mas esta é a reserva do hotel.

A aeromoça magrela
sorriu-me ha hora do embarque
mas eu preferia estar com ela
numa cama do Green Parck

Na hora de levantar vôo
foi aquela aflição.
Uma sensação de enjôo
um aperto no butão.

A 750 km por hora
e dez mil metros de altura
ah, minha Nossa senhora,
que saudade da prefeitura!

O companheiro que ao lado ia
em vez de aliviar-me a aflição,
olhava pela janela e dizia:
_Eu preferia estar lá no chão.

_olha meu senhor,
sou da mesma opinião.
Mas lá em Brasília, por favor.
Por enquanto, aqui tá bão.

Foi tudo bem, até que gostei.
Antes, durante e depois.
Tanto é que nem usei
a calça número dois.

Desembarquei, taxi e coisa e tal...
Chequei documentos, dinheiro...
aí veio a pergunta fatal:
_Por um acaso, o senhor é mineiro?

No Gabinete foi de doer
duas fiquei sentado
e nada de aparecer
sua exelêncoa, o deputado.

Aí, chegou o assessor.
Cumprimentou e disse sério:
_pegue os documentos por favor
e me acompanhe ao ministério.

Não foi como eu pensava!
Nenhuma autoridade de vulto.
Inclusive o ministro estava
numa festinha de amigo oculto.

Enfim fui pro hotel
vista pro lago sul
vida doce como mel
debaixo do céu azul

Eu sou mesmo do pompéu.
Fiquei pensando o tempo inteiro:
Ao sair deixo o dinheiro no hotel?
Ou onde for, levo o dinheiro?

Dormi e acordei pensando
nesta dúvida cruel.
daí, acabei ficando
o tempo todo no hotel.

Pensei em fazer amor
mas nem tudo é como a gente quer.
Em terra de Senador
quem aguenta pagar mulher?

Eu sou mesmo do Pompéu.
Foram gafes de arrepiar.
As do restaurante, então?
é nunca que eu vou contar.

Neste chão que hoje piso
coisa igual eu nunca vi.
Se isso não é o paraíso,
o caminho é por aqui.

Mas é hora de rever a família
que, apesar de tudo, faz uma falta incrível.
até um dia Brasíla
se este um dia for possível.

Na volta já mais ambientado
comi dois bandeijões.
O meu e o do colega ao lado
que alegou indisposições.

À meia noite cheguei
e reuni a família.
Umas dez vezes contei
minhas aventuras em Brasília.

Minha mulher fez que não ouviu
quando eu disse bem alto:
Cê vai cumer pinto que subiu
até na rampa do Planalto.

E ela muito frescona
não deixou de alfinetar.
_Já que ocê foi naquela zona
por que não deixou esta merda lá?