Mãe e filho

(Na sala de jantar, a mãe está pondo a mesa. Entra o filho.)

FILHO – Mãe, eu precisava falar...

MÃE – Ô, meu filho! Quer comer alguma coisa?

FILHO – Mãe, eu precisava falar uma coisa...

MÃE – Você não tá com fome? Até essa hora na rua, aposto que só almoçou.

FILHO – Mãe, eu queria falar uma coisa pra você...

MÃE – Já, já, nós vamos jantar. Daqui a pouco seu pai chega. Mas se você quiser, eu preparo um lanchinho pra você.

FILHO – Mãe, o que eu tenho pra te falar é importante...

MÃE – Então, o que você quer: pão com salame, ou umas torradinhas?

FILHO (gritando) – Mãe! Por favor, me ouve! Eu preciso falar uma coisa importante pra você!

MÃE – O que é menino? Tá gritando por quê? Não sabe falar com educação?

FILHO – Eu tomei uma decisão, mãe.

MÃE – Ah, eu já sei.

FILHO – Sabe?!

MÃE – Sei, sim. Olha, meu filho, tem horas na vida da gente que é assim mesmo. A gente fica em dúvida...

FILHO – Puxa, mãe, nunca pensei que você fosse...

MÃE – A gente não sabe o que fazer...

FILHO – ...me entender tão bem!

MÃE – Mãe sempre entende os filhos. A gente sempre sabe quando um filho está com problemas...

FILHO – Ainda bem que você me entende...

MÃE – Precisa tomar decisões...

FILHO – Assim, fica mais fácil contar pro pai.

MÃE – Ah, mas eu já contei!

FILHO – Contou?! Como assim, contou?! Eu nem tinha falado nada pra você ainda...

MÃE – Ora, meu filho. Eu te falei que eu já sabia de tudo!

FILHO – E precisava contar pro pai?

MÃE – Deixa de bobagem, meu filho. Uma coisa à toa dessas...

FILHO – À toa?! Mas...

MÃE – Eu sei que pra você é um fato importante, eu também já tive a sua idade.

FILHO – E o pai, o que ele disse?

MÃE – Pra ele tá tudo bem.

FILHO – Tudo bem?! Tem certeza, mãe?

MÃE – Claro, filho! Seu pai não é nenhum bicho-papão!

FILHO – Então tá, mãe. Já que tá todo mundo sabendo, a gente pode combinar de fazer outra coisa, já que amanhã nós não vamos mais pra Piracicaba.

MÃE – Como não vamos mais pra Piracicaba?!

FILHO – Ué! Você não disse que tá tudo certo?

MÃE – Sim, tá tudo certo você trazer sua namoradinha aqui em casa pra gente conhecê-la.

FILHO – O quê? Minha namoradinha?

MÃE – Ela é de Piracicaba? Não sabia...

FILHO – Mãe, eu não vou trazer minha namorada aqui em casa, não! O que eu tinha pra falar...

MÃE – Ah, não vai trazer mais não? Que pena! Eu queria tanto conhecê-la.

FILHO – É que eu não vou mais pra Piracicaba amanhã...

MÃE – Mas ela é de Piracicaba? Você nunca me disse...

FILHO – Eu não vou mais fazer Engenharia Agronômica.

MÃE – Ah, ela faz Engenharia? Que bom, né? Assim, vocês vão poder estudar juntos...

FILHO – Mãe! Eu não vou mais pra Piracicaba fazer Engenharia Agronômica.

MÃE – Em que ano ela está? Achei que ela fosse mais nova que você.

FILHO – Mãe! Me ouve!

MÃE – Tá bom, menino. O que é que você quer?

FILHO – Mãe, eu, entendeu? (gritando) Eu não vou mais fazer Engenharia Agronômica em Piracicaba!

MÃE – E sua namorada vai?

FILHO – Mãe, escuta: (apontando para si) eu não vou mais estudar Engenharia Agronômica em Piracicaba. Nem eu, nem minha namorada, nem ninguém!

MÃE – Ah, mas amanhã você vai pra Piracicaba?

FILHO – Mãe, eu não vou mais pra Piracicaba, nem hoje, nem amanhã, nem (gritando) nunca!

MÃE – Que é isso, menino?! Foi essa a educação que eu te dei? O que a sua namorada vai pensar?

FILHO – Mãe, (gritando) eu não tenho namorada!

Aline Ponce
Enviado por Aline Ponce em 24/09/2006
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