A Pescaria.

Fato ocorrido no município de Cutias do Araguari no Amapá no ano de 2003, neste município uma vez por semana o Ministério Publico do Amapá realizava atendimento à população juntamente com o Tribunal de Justiça do Estado, então na ocasião eu e um funcionário do posto de atendimento do Tribunal de Justiça daquela comarca organizamos uma pescaria para acontecer após o término do atendimento.

Então por volta das duas horas da tarde saímos em uma voadeira de alumínio, éramos seis, o Promotor, o Juiz, o Defensor, o funcionário do Fórum, o pescador que pilotava a voadeira e sabia dos melhores lugares para pescar e eu. Então como falam os ribeirinhos “baixamos o rio” e depois de quase quarenta minutos rio abaixo, entramos num braço do rio à direita.

Era um braço estreito e de vez em quando batíamos em ramos das arvores e também era cheio de troncos, tínhamos que ir bem devagar e com cuidado. Chegando num determinado local o pescador que pilotava a voadeira falou:

-É aqui que vamos pegar os melhores peixes, vou jogar a tarrafa.

Depois que jogou a tarrafa, não demorou nada e puxou a mesma cheia de peixes de vários tamanhos e espécie. Depois de mais ou menos umas seis tarrafeadas e já com bastante peixe dentro da voadeira começamos o caminho de volta ao município, no entanto o pescador falou que logo adiante havia uma pequena enceada onde costumava dar peixes maiores e de boa qualidade e que seria bom colocarmos lá uma rede para pegar os tais peixes.

-Sendo assim, então vamos colocar a rede, disse o nobre Promotor que de imediato teve o apoio tanto do Juiz como do Defensor.

Então o pescador parou a pequena embarcação na beira do rio e colocou a rede de forma que os peixes que estivessem nadando no sentido de saída do braço do rio ficariam presos à rede, então o pescador disse:

-Agora vou por terra para bater com uma vara dentro d’água para os peixes irem para rede.

O certo é que apesar de não termos entendido nada concordamos com o pescador, já que ele era o experte, então ficamos todos dentro da voadeira enquanto ele foi bater na água com a dita vara. De repente só escutamos o pescador gritar:

-Corre aqui! Corre aqui! Ajuda!

Nisso o promotor e o juiz ao mesmo tempo:

-Corre alguém lá e vê o que ta acontecendo, corre lá Bertoldo.

Nisso sai da voadeira depressa e corri para ver o que tava acontecendo, quando cheguei perto o pescador gritou para mim:

-Puxa o rabo dela, senão ela vai comer os peixes, segura firme que vou bater com a vara na cabeça dela.

Quase corri de volta ao constatar que se tratava de uma sucuri de mais ou menos uns quatro metros e meio que estava com parte para fora do rio e a parte da cabeça dentro do rio, segundo o pescador a mesma comeria os peixes que por ventura estivessem presos à rede.

Então me revesti de coragem e peguei a danada pelo rabo e comecei a puxar, claro que foi inútil o esforço que fiz, pois uma cobra deste porte é muito forte e o instinto de sobrevivência fala mais alto, no entanto com as pancadas que o pescador deu na cabeça dela a pobre se soltou de lá e lá vou eu puxando a cobra pelo rabo até a parte seca da beira do rio, nisso o pescador chega coma dita vara e bate varias vezes na cabeça dela até que a mesma esteja morta.

Com a morte da cobra eu a peguei e levei para o barco, nisso o nobre Promotor disse:

-Que que é isso rapaz, que cobra grande, era ela que tava dando todo esse trabalho para vocês?

-Ela mesmo doutor! E olha que ela ta ferida, não fosse esse ferimento não teríamos tirado ela da água não!

A cobra coitada, já estava com um ferimento de mais ou menos uns dez centímetros no dorso, talvez causado por uma hélice de embarcação ou facão de outro pescador.

O interessante é que ao colocá-la no pequeno barco o Promotor pegou a cobra pela cabeça e a colocou no colo e começou alisar-lhe a cabeça, como se fosse num gesto de afago, nisso a cobra se retorce toda e o promotor imediatamente joga a danada no assoalho do barco e grita:

-Essa porra tá viva, vocês não mataram a cobra! Tira essa porra daqui.

Nisso pegamos uma garrafa de cerveja que estava no barco e batemos na cabeça da cobra até ela morrer, depois colocamos ela pra fora do barco e medimos aos palmos, deu dezessete palmos e um pouco. Então, após constatarmos que a mesma estava mortas a jogamos no rio para servir de alimento para as piranhas que ali havia.

Ao retornarmos para Cutias foi o papo que rolou até o nosso retorno para Macapá, quem ouve tal história pensa que é mais uma de pescador, mas o certo é que este fato é verídico.

Bert Noleto

Macapá, 06 de Janeiro de 2011.

Bert Noleto
Enviado por Bert Noleto em 08/01/2011
Reeditado em 15/10/2013
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