AMOR PLATÔNICO

          - Mamãe, não, não pode ser! - o grito desesperado corta o silêncio da tarde.
          - O que foi, minha filha? - pergunta a mãe, entrando correndo no quarto, aflição na voz e no olhar. Encontra a filha sentada na cama, olhar arregalado, fixo no calendário que tem nas mãos.
          - Mamãe! - a voz sai entrecortada por soluços, grossas lágrimas brotam dos seus olhos - Liga pro Alfredo e diz pra ele que não vai mais ter o casamento! - deixa cair o calendário e cai num choro convulso.
          - Mas por que, minha filha? - envolve-a nos braços e alisa os seus cabelos com ternura - Vocês brigaram?
          - Não, mamãe. É que... é que...
          - É que... o que? - pergunta a mãe, prestes a ter um ataque de nervos.
          - É que eu tava fazendo as contas... eu vou estar menstruada no dia do nosso casamento! - e desanda num choro de cortar o coração de qualquer mãe.
          - Mas... minha filha... veja bem... - as mãos levantam de forma terna o rosto da filha e afastam mais uma lágrima que brota nos seus olhos. - Já está tudo acertado... os convites já foram entregues, o padre, o buffett, o salão... - solta um suspiro - Não dá mais pra desfazer!
          - Liga pro Alfredo! Liga pro Alfredo! Conta pra ele! - e, abaixa a cabeça, procura aninhá-la no peito da mãe. - Eu não tenho coragem! 
          - Está bem, minha filha! Acalme-se! Tudo se ajeita, você vai ver!
          Levanta, pega o telefone, disca um número, espera...
          - Alô? É o Alfredo? Como vai? Aqui é a Tereza, mãe da Luciana...
          - ...?
          - Não, ela está muito bem...
          - ...?
          - Bem... é... como é que eu vou lhe dizer?
          - ...!!!
          - Tá bom, acalme-se! É que a Luciana quer desmarcar o casamento! É isso! - solta um suspiro de alívio.
          - ...??!!
          - É porque ela vai estar menstruada no dia, entendeu?
          - ...
          - An-hã!
          -...
          - Sei!
          - ... ...
          - An-hã!
          - ...   ...  ...
          - An-hã! Sei! Pode deixar que eu falo pra ela. Eu sabia que você ia entender, Alfredo. Tchau! - e desliga o telefone.
          - O que foi que ele disse, mamãe? - pergunta Luciana, aflita, agitando os braços, olhos arregalados, boca aberta, pronta para abocanhar a resposta. A mãe lhe dirige um sorriso tranquilizador, abraça-a e responde:
          - Ele disse pra você não se preocupar, porque o amor que ele sente por você é um amor platônico. 
          - Graças a Deus! - diz Luciana, mas, logo a seguir, arqueia as sobrancelhas, encara a mãe, preocupação estampada na face. - Mamãe, o que é um amor platônico?
          - Eu também não sei, minha filha. - responde a mãe, dando de ombros. - Mas... no dia do seu casamento, acho bom você lavar bem a bunda e levar um tubo de gel lubrificante!   
Alexandre Brito
Enviado por Alexandre Brito em 26/02/2011
Reeditado em 25/05/2011
Código do texto: T2816609
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