A obrigatoriedade do drama

Tive uma namorada, há muito tempo atrás, que cresceu assistindo novelas mexicanas. Para ela a frase “eu te amo” não valia nada se não fosse regada de lágrimas emocionadas ou expressões de profunda intensidade e envolvimento. Nossa primeira briga foi por que durante o almoço eu segurei em sua coxa e disse que a amava, como sempre as mulheres sabem mais sobre o que se passa no interior dos homens do que eles próprios (ou pelo menos sempre tem esta impressão), ela me relatou que eu não estava sentindo aquilo que disse, que falei automaticamente sem pensar nas consequências (o que não deixa de ser verdade, já que se eu soubesse que ela faria todo esse drama, teria almoçado em silêncio), que minhas palavras não tinham a intensidade correta para demonstrar o amor. Após aquele almoço, ela me deixou por que eu não a amava.

Fui conhecer uma trupe de teatro por coincidência, durante o porre que sempre tomo para expressar meu próprio drama pessoal. Eles me ensinaram diversos truques como modular a voz, fazer com que lágrimas saíssem de meus olhos sempre que eu achasse conveniente e outras coisas do gênero que logo coloquei em prática para recuperar meu amor perdido.

Eu chorava “de verdade” com a saudades que eu sentia quando ela saía para comprar pão, quando eu dizia “eu te amo” as pessoas ao redor ficavam comovidas e sonhavam em um dia ouvir estas mesmas palavras com o mesmo tom... A semana seguinte foi maravilhosa, ela se abriu para mim como apenas fazia em seus delírios mais secretos, depois, ficou com medo do que poderia acontecer se ela algum dia me machucasse, afinal, eu era intenso demais, e esta foi nossa segunda e última briga. Ela chorava lágrimas sinceras de verdade, não como as minhas, mas, modéstia a parte, meu choro foi muito mais convincente. Tão convincente que ela chegou em casa, escreveu uma carta de suicídio recriminando-se por ter ferido um homem tão puro e sensível como eu, explicando em detalhes a pessoa horrível que ela sentia ser enquanto fingia que me amava, chorou a noite inteira, mandou a carta pra mim pelo correio e arrumou outro namorado.

Ontem encontrei ele no bar, tomando um porre por que ela disse que ele não tinha a intensidade correta, logo, não a amava. Com meu conhecimento teatral em instantes me tornei seu melhor amigo daquele momento e lhe ensinei alguns truques...

Agora é só esperar e ver o que acontece...

=NuNuNO==

( Que queria ter tido mais tempo para escrever sobre o tema )

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 12/03/2011
Código do texto: T2843017
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