FLATULÊNCIA I & MAIS

FLATULÊNCIA I

Foi um médico ilustre convidado

a dar palestra em seu torrão natal:

subiu nervoso à plataforma; e é natural,

pegando as folhas que o vento tinha levado,

soltou um sonoro pum, ainda ampliado

pelos microfones... Sentindo uma mortal

vergonha, fez a palestra mal e mal,

pelos risinhos da plateia acompanhado...

Ficou famoso esse doutor Pompeu,

motivo para a mais constante troça

dos invejosos da cidadezinha...

Foi aplaudido, mas logo se escondeu,

entrou no carro e abandonou a roça,

sem voltar nunca mais à sua terrinha!

FLATULÊNCIA II

Anos depois, sua mãe faleceu,

que levara para morar na capital

e precisou voltar, para seu mal,

àquela mesma cidade em que nasceu...

Foi para o hotel, em que outro nome deu,

tão só por precaução, achando natural,

que depois de tantos anos, afinal,

ninguém lembrasse do que lhe sucedeu.

Na portaria comentou, porém,

que nascera há muito tempo no lugar,

"Vim tratar de uns papéis, mamãe morreu..."

Mas o empregado lhe indagou também:

"O senhor saiu depois", desculpe perguntar,

"Ou antes do pum que soltou o Dr. Pompeu?"

INFORMÁTICA

Os índios empregavam, no passado

sinais de fumaça para transmissão

de suas mensagens e, com precisão,

as fogueiras cobriam, com cuidado,

para puxar o cobertor, num gesto airado,

só permitindo da fumaça a emissão

em nuvens controladas com razão,

conforme código há muito elaborado.

Mas um dia, ao abaixar o cobertor,

o índio técnico estava desatento

ou foi então traído pelo vento

e a fogueira apagou, num estertor!

E se justificou, com o velho lema:

"Desculpa, chefe, é que caiu o sistema!..."

MASCOTE

Ao visitar o Brasil, tempos atrás,

a turista portuguesa se engraçou

por um gambá que a ela se abraçou

e não queria mais ficar pra trás.

Disse o marido: "Vê bem o que tu faz,

tem esse IBAMA que o Brasil organizou."

"Mas eu quero o bichinho!" - lamentou

a portuguesa - "por que tu não me dás?"

"Bem, se tu queres mesmo, a solução

é o esconderes dentro da calcinha,"

respondeu o português, cheio de amor.

"Mas, e o cheiro que vai ficar então?"

"Azar do bicho, minha queridinha,

ele que aguente todo o teu fedor!..."

BLECAUTE

Enquanto banho tomava, faltou luz:

lavou o sabão, secou-se bem depressa.

A esposa corta a escuridão espessa:

"Queres a vela que na sala eu pus?

É que só temos uma. Não repus,

têm-nos cortado a luz vezes à beça!..."

Orgulhoso, ele responde: "Não, esqueça,

já me vesti... Um reflexo reluz

da lâmpada da rua, que está acesa..."

Ao sair do banheiro, os filhos riem:

"Chegou o Super-Homem!" E sorriem.

Ele se olha no espelho, atrás da mesa.

Como castigo por vaidades falsas,

vestira as cuecas por fora das calças!...

UM LONGO BEIJO

Um casal de velhinhos foi à roça,

onde se haviam conhecido no passado.

Ela pediu um beijo, bem ao lado

da cerca em que se haviam encontrado.

Deram-se o beijo, como ninguém possa

dar-se hoje em dia, de tanto demorado.

Um caipira passou e ficou assombrado

com o amor que assim via demonstrado.

"Mas vocês não conseguem se largarem!

Como eram então, aos vinte anos?"

E a velhinha respondeu desesperada:

"É que quando antigamente nos beijamos,

esta cerca não estava eletrificada!...

Por favor, peça para desligarem!..."

MARUJO (para "Senta")

Havia uma mulher apaixonada

pela figura de um velho marinheiro:

quando deixava o mar, vinha certeiro

a visitar sua bela namorada.

Um dia, ela lhe disse estar cansada

de ficar tão sozinha no terreiro,

enquanto ele cobria o mundo inteiro

e em cada porto tinha nova amada.

Tanto insistiu que fosse mais presente

que, por amor, desistiu do itinerário

e abandonou seu livre velejar...

E o resultado não foi nada surpreendente:

o capitão tornou-se sedentário

e hoje é ela quem passa a viajar!...

GABOLA (para Ulisses)

Num barzinho de campanha, o valentão

gabava para os outros sua coragem;

mas o espertinho contava só vantagem,

pois não passava de um triste fanfarrão!

"Um dia, entrei num mato fechadão,

andava a pé, no meio de viagem;

quebrei um gaio, a mata era servagem,

pra minha defesa, se houvesse percisão...

Foi então que duas onça se achegaram,

bem de mansinho... E já foram me mordendo!

Até o porrete, sem querer, sortei..."

"Mas o que você fez?" lhe perguntaram.

"Com as duas onça eu tava combatendo:

a sorte foi que aí eu me acordei!..."

GURI ARTEIRO (para Ulisses)

"Mamãe, a senhora lembra os dez reais

que prometeu me dar, se eu me portasse

com toda a educação, quando brincasse

no aniversário da Lucinha de Morais...?"

"Lembro, sim, meu filhinho. Mães jamais

esquecem as promessas... Desde que nasce,

a gente deve responder pelo que passe,

castigo ou recompensa, tanto faz!..."

"Pois é, mamãe, a senhora tem razão..."

"Você merece, então a recompensa...

Vou pegar a minha bolsa no roupeiro..."

E o capeta respondeu, com inspiração:

"Mamãe, não é o que a senhora pensa:

você economizou um bom dinheiro!..."

NOBRE POVO

"Caro Manoel, eu te agradeço o envio

dessa caixa de fósforos brasileiros.

Infelizmente, foram trapaceiros

que tos venderam na viagem pelo Rio...

Passei riscando durante horas a fio:

gastei esses palitos por inteiros,

mas nenhum acendeu, são verdadeiros

furtos do gajo que antes te iludiu!..."

"Porém não pode ser, Maria Joaquina,

cachopa amada do meu coração,

tenho certeza que não houve roubo algum:

Eu fui comprar no armazém da esquina,

é de um patrício, nunca foi ladrão!...

E depois, experimentei todos, um por um!..."

AVISO

Foi um cara da cidade ao interior

e parou num bolicho de campanha;

igual que todo mundo, pediu canha:

puxou conversa com um velho senhor.

"Lá na cidade, dizem que é um horror

esses capangas por aqui, cheios de manha,

fazem tocaia, atacam numa sanha,

matando gente sem o menor temor."

"Não é verdade", disse o companheiro.

"Por estas banda não existe valentão,

semo pacífico, a não ser que arguém revele

malintenção com a gente, forasteiro.

Mas fique descansado, em percisão,

surge um bandido: a gente mata ele!..

SUPER-BEBUM I

O cara sai do bar. Tinha tomado

umas que outras... Na hora de fechar

escorregou três vezes. Pra se levantar

apoiou-se nas mesas, no tablado...

Na rua, cai de novo. Anda agarrado

aos postes e paredes, até chegar

no edifício, que conseguiu lembrar

ser onde ele morava. Com cuidado,

se arrasta, aos poucos, pelo corredor.

Levanta e cai. Acaba desistindo

e mal consegue chamar o elevador.

Apertou os botões, ainda agachado.

Tirou a chave do bolso, conseguindo

entrar em casa, nas portas agarrado.

SUPER-BEBUM II

Ainda tonto, desliza pelo chão,

até chegar ao quarto, onde a mulher

dormia a sono solto. Sem querer

acordá-la, deita vestido no colchão.

No outro dia, é acordado a bofetão

pela mulher furiosa, que não quer

ouvir qualquer desculpa, nem saber

da velha história preparada de antemão.

"Borracho desgraçado! Outra vez

vieste pela rua a te arrastar,

seu porco! Ainda morres com essas modas!"

"Mas como é que soubeste?" "O Juarez

telefonou do bar, pra me avisar:

deixaste lá a tua cadeira de rodas!..."

William Lagos
Enviado por William Lagos em 16/03/2011
Código do texto: T2850807
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