OBSESSÃO

Eu que achava que os rimadores compulsivos eram algum sintoma novo da minha doença literária, descobri enquanto revirava o baú, que em 1991 eu já tinha essas crises rimadas! Eu era só uma criança, se alguém tivesse percebido isso antes, hoje talvez eu estivesse curado... Com vocês, uma pequena obra de um livro não publicado, chamado:

“ Histórias sem pé nem cabeça do Z' ”:

OBSESSÃO

Esta é a história de Rebeca, uma menina sapeca, que matou uma perereca enquanto jogava peteca. O pobre anfíbio estava ali, observando parado e a menina sem o ver, o pisoteou, ele foi esmagado. Ao ver o que fez a menina se pôs a chorar, pensou um pouco e percebeu que o mínimo que poderia fazer era a enterrar.

Rebeca correu, correu sem parar, ela foi até a cozinha para a sua caneca pegar. Aquela velha caneca, que era de estimação, serviria para perereca, como se fosse um caixão.

Rebeca pegou uma pá, e logo um buraco foi cavar, para a pequena perereca dentro da caneca enterrar. Depois do buraco feito, o cadáver ali jogou, rezou uma ave Maria e depois o enterrou.

Depois de tudo terminado, Rebeca começou a pensar, foi então que percebeu que gostava de enterrar. Ela nem mesmo pensou e outro buraco já cavou, Rebeca pegou a peteca e também a enterrou. Depois foi para a sua casa e começou a procurar, por qualquer outro objeto que pudesse enterrar. Logo achou a solução, correu para o quintal e enterrou a panela de pressão.

Já era uma ideia fixa, uma obsessão, enterrou o pacote de arroz junto com o de feijão. Por onde ela andava, tudo o que encontrava ela enterrava...

E assim enterrou muitas coisas: enterrou uma batata e uma cenoura, enterrou o guarda-chuva e o cabo da vassoura, enterrou a privada e as coisas da empregada. Sem nenhuma hesitação enterrou o rádio e a televisão, como uma coveira, enterrou o fogão e a geladeira. Enterrou a bíblia e todos os livros que haviam em casa, e por incrível que pareça, só não enterrou " As Histórias sem pé nem cabeça* ", enterrou as suas roupas e as roupas de seu pai, que não sabia de nada pois estava no Paraguai, enterrou o chuveiro e a pia da cozinha, enterrou até mesmo o gato chato da vizinha.

Em três dias, Rebeca enterrou todos os moveis e coisas que haviam na casa, enterrou também um passarinho que havia quebrado a asa. Com a casa vazia, ela se sentiu sozinha, resolveu chamar suas amiginhas, que logo chegaram felizes e animadas, mas, não deram nenhuma risada quando foram enterradas:

Enterrou a Daniela e a Beatriz, enterrou a Gabriela e ficou muito feliz. Por ultimo enterrou a Marilu, que se vestia toda de preto, parecia um urubu, e que antes de ser totalmente enterrada mandou Rebeca tomar cuidado, pois quem com o ferro fere, com o ferro será ferido e lhe rogou uma praga, que ela morreria enterrada em um lugar sujo e encardido.

Os vizinhos chamaram a policia que logo apareceu, e a prendeu. A levaram de camburão, com destino a prisão.

Na prisão era uma aflição, coisa de amargar, sem nada para fazer, sem nada para enterrar. Então ela teve uma ideia, para dali escapar, nem pensou duas vezes e começou a cavar. Parecia uma toupeira, a menina escavadeira, cavava com muito gosto e um sorriso maroto, depois de algumas horas ela já estava no esgoto. Finalmente a caminho de sua liberdade, ela nem mesmo imaginava o que acontecia lá encima, na cidade.

Um helicóptero estava voando, tão alto como nunca se viu, o piloto teve um ataque cardíaco, e o helicóptero caiu, um enorme buraco no chão abriu e depois explodiu.

Lá embaixo soterrada pelos escombros estava Rebeca, uma menina sapeca que gostava de enterrar, enterrou sua vida, enterrou suas amigas sem se preocupar. Agora o seu corpo está esmagado e enterrado, rasgado e a sangrar, o corpo de uma menina que morreu sem gritar. Por não ter escutado o que Marilu dizia, tomou a lição que merecia.

Esta história não saiu como eu quis, mas pelo menos o final foi feliz.

=NuNuNO==

( Desenterrando cada coisa desse baú... )

* "As Histórias sem Pé nem Cabeça" é um livro não publicado escrito pelo autor desta infame história que deveria ter sido publicada no tal livro.

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 06/04/2011
Código do texto: T2892812
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