Ri melhor quem ri de si mesmo

Há tempos muito idos (felizmente), eu vivia numa casa meio deteriorada (não por escolha, mas por necessidade) e dividia vida e sonhos com um companheiro (por escolha, sim, e quase todas as minhas escolhas são um desastre).

Eu sentia que minha vida era uma merda: era traída, maltratada, mal cuidada, e o dinheiro não sobrava nem para comprar romance barato em banca de revista.

Numa tarde calma e luminosa estava no quintal estendendo roupa, quando afundei a perna na fossa do banheiro.

A dor foi uma danação - a perna formou um ângulo estranho, parecia quebrada; lavar com antisséptico foi outro inferno. Fiquei sem poder andar por uns dias, e até hoje minha coxa direita tem marcas dos arranhões. Mas tudo isso foi depois: minha reação imediata à surpresa e à dor foi uma enorme gargalhada.

Explico: minha professora de literatura falava o tempo todo em 'coerência textual' e 'licença poética'. Na hora da dor, deu-se em mim uma espécie de 'flash': tudo que eu vivera e vivia no momento, todas as dores, todas as escolhas...

Então sintetizei os dois termos em "coerência fétida" e foi impossível não rir - essa, sim, foi uma escolha es-tu-pen-da!

Gina Girão
Enviado por Gina Girão em 20/04/2011
Código do texto: T2920194
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