ANJO DE UMA ASA, SÓ!

Como de praxe, aos domingos, vou à missa na Igreja de São Sebatião, no Santa Amélia, retorno em casa, coloco a minha indumentária dominical de clube e vou até ao “Dr. Frango” buscar o frango assado para o almoço.

O “Dr. Frango” assa seus frangos, sempre regado ao suco de uma frura da época: acerola, pitanga, uva, abacaxi … O local, no Bairro, é bucólico, com muitas árvores ornamentais, frutas e folhas de chá e cheiro verde.

A venda de frangos está instalada sob um quiosque rústico adornado de plantas; até um ninho do pássaro, João Graveteiro, capa de nosso livro “Contos, causos e cousas de Minas”, do alto de uma árvore, a tudo assiste.

Juraci, temperador e assador – exímio - de frango prepara sua poção mágica num caldeirão e imerge os frangos por algumas horas, antes de assá-los. Depois, é ouvir os vizinhos agradecendo pelo aroma e indo buscar sua iguaria para o desfogo da culinária do fim-de-semana.

Outra grande qualidade do “ Chef” Juraci é guardar, sempre, uma cachacinha da roça para bebericarmos, enquanto ele prepara o frango, para levá-lo.

Mas, não é qualquer caninha que ele separa, não! O nosso amigo Ronan, produtor de Cachaça de Catas Altas – MG, deixa sempre uma amostra de sua lambicagem. Neste domingo, ontem, tivemos uma garrafa da “Havana”, de Salinas.

Fazendo jus ao seu nome indígina, “Juraci – aquele que fala o bem”, possui uma prosa prazerosa, agradável.

Ao chegar, Juraci me disse:

_ Calazans, tome uma Havana !

_ Mas esta merece um tira-gosto; retire para mim a asa do meu frango, por favor !

Papo vai, papo vem, ao ir embora, tinha três frangos embalados, separados sobre o balcão. Apanhei o meu e ía saindo quando Eunice Doyle esposa de Juraci veio até mim e disse:

_ Calazans este é o seu frango ! Com a sacolinha já nas mãos.

_ Obrigado, Eunice ! Fico até constrangido com o atendimento que vocês me dispensam. Além de me tratarem respeitosamente, separam o que melhor houver em frango para mim. Não precisava tanto. E troquei a sacola com ela.

_ Não, não Calazans! Não é pelo que você está pensando, não! É porque seu frango é que nem um anjo de uma asa, só !

_ Como assim ? Indaguei-a.

_ Uai! Você se esqueceu que pediu ao Juraci para retirar uma asa, para você comê-la, não? Imagina se outra pessoa levasse a sua sacola e quando em casa chegasse, ao abrir o embrulho, observasse que em seu frango faltava-lhe uma parte? O que ela iria pensar da gente ? Ah! Ah! Ah!

_ Mas não é, mesmo ? Até havia me esquecido disso, Eunice !

_ O que seria de nós, Juraci, se não fossem as mulheres ? Elas são atenciosas em tudo! Brinquei com a situação.

E Eunice emendou:

_ Estou achando que Juraci deve, é diminuir o brinde de caninha, aos fregueses; pois está fazendo com que ele e eles, fiquem muito esquecidos! Ah!, Ah! Ah!

Aí, então, Juraci retrucou:

_ É ruim, hein? No despisto de premiar ao freguês com uma dose, eu jogo uma para o santo – que é meu apelido, desde Teófilo Otoni !