Meu sofrimento com bullying

Estou sofrendo de bullying. Eu tenho 25 anos e estou sofrendo de bullying. Todos os dias eles me agridem, eles me ofendem moralmente, eles arrancam um pedaço grande de mim. Na faculdade a única coisa que faço é pensar neles, eu procuro ajuda dos meus amigos. Em vão. Todos eles sofrem nas mãos dos meus opressores. Todos eles choram as mesmas lágrimas dos meus olhos. Volto pra casa e nem lá tenho descanso. Assim que chego a violência me alcança, por telefone eles me cercam, por telefone eles vem e acabam com meu dia! Esses grandes filhos da puta, por que não me deixam em paz!

Saio correndo de casa, corro o mais rápido que posso, mais rápido que meus pensamentos. Vou para o refúgio da minha infância, vou para a casa da minha mãe. Preciso da compreensão materna, não vou assustá-la, vou tentar segurar toda essa angústia para que ela não se preocupe, vou ser homem...

- Mamãe!

- Para de gritar no meio da rua, Pedro! Que isso?!

Atiro-me no colo de onde brotou minha existência! Choro copiosamente, grito, berro!

- Mamãe!!! Ma..hic . ãe!!

- Meu filho, o que aconteceu?!

- Eles não param de me perseguir! Não aguento mais essa vida! Por favor, me proteja!

- Filho, você tem 1.85, pesa 100 kg e faz academia todos os dias! Quem tá fazendo isso com você?

- Mãe, eles são muitos... Estão por toda parte, disseram que seriam meus amigos, mas eles não são!

- Filho, fala comigo, eu resolvo isso pra você, chamo a mãe deles! Fala quem são eles, o que eles fazem com você?

- Eles ligam pra casa e falam mentiras! Mentiras! Eles acabaram com minha reputação, com meu nome! Todo mundo gostava de mim, agora quando chego ninguém quer falar comigo, por causa das mentiras! Mentiras! E... e... eles falam, eles falam que é só o começo, que vai acontecer mais! Ameaças, eles ligam pra casa e me ameaçam! Exigem que eu vá pra casa deles, pra conversar, eles dizem, mas é mentira! Eu caí na primeira vez... eles falaram que eram meus amigos, aquela mulher, linda, uma japonesa linda... ela me fez abrir aquela conta! Eu não queria! Mas ela me disse que eu tinha direito a cartão de crédito, a um limite de cheque especial, que as taxas deles eram as mais baixas do mercado! Mentira!

- Hã?!

- E os juros, eu não queria pegar aquele empréstimo! Eu devia pagar um soco na cara todo mês! Doiria menos!

- Ai Pedro, de novo?

- Estou sofrendo de bullying Bancário!

- Você já tem emprego e ainda não sabe guardar dinheiro!

- Mas não foi culpa minha, mãe, a japonesa... e... e o cartão de crédito... e o carnaval!

- O que você fez com seu dinheiro?

- Ai mãe, que invasão de privacidade, credo, eu aqui sofrendo com o mal do século e você querendo me dar lição de moral, que exemplo de amor materno.

A emoção vence a razão. Milhões de anos de evolução trouxeram aos filhos enrolados palavras certas para afogar a sabedoria materna num mar de culpa inexistente. Milhões de neurônios lutam por oxigênio enquanto o coração inverte o fluxo sanguíneo, monopolizando atenções e pensamentos. O cérebro clama por misericórdia enquanto o coração baixa a ordem aos demais órgãos, que obedecem temerosos às rédeas do tirano enfurecido.

Sob o olhar de “Eu sei que não é o certo” vem as palavras: - De quanto você precisa?

Surge a oportunidade, a natureza é implacável, as palavras seguintes impiedosas:

_ Eu preciso de $$$, te pago em agosto. (Ano indeterminado)

Enquanto a imposição genética é escriturada em um processo inexorável, enquanto a progenitora age desfocada de razão, guiada por ideais milenares, pela mais sagrada das uniões de sangue, nos conformes das leis naturais que separam o divino do animal, enquanto a mãe, mesmo depreciando seu monetário, preenche-se com o sentimento de santa, imaculada pela ganância e o egoísmo, na defesa da fé e união familiar, em outro lugar ecoam pensamentos diferenciados.

(Final de semana, balada, namorada, micareta, Gevê Folia. Ufa, Mais um mês de oxigênio).