__DONA IRIS...A TRAÍRA___

Dona Iris...A traíra....

Dona Iris, é uma senhora que eu considero como segunda mãe, adoro ela, seu jeito de ser, seu carinho por mim,mas olha que ela é danada que só vendo! Vive aprontando algazarras e fazendo a gente rir a toa.

Esta semana ela me aprontou uma que merece ser contada. Na verdade, ela em si já é uma bela história. Está com 62 anos foi criada pela avó e já casada e com dois filhos, ela conheceu aquele que seria o seu pai, mas ele sempre negou e, só agora depois de um processo de investigação de paternidade, feito exame de DNA ela foi reconhecida de fato pelo homem que a vida toda negou que era pai dela. Mas, ela não sofria com isso não, só queria o reconhecimento dele, porque dizia ela...

__Tenho o direito de ter o nome do meu pai na certidão de nascimento, não vou morrer com minha certidão escrita pai desconhecido! Não sou filha de chocadeira! E ela conseguiu.

O processo já foi julgado, o pai reconhecido e determinado que conste na certidão de nascimento dela o nome do pai, e que ela passaria a ter então o sobrenome dele. E é aí que começa a parte da história que eu ia contar, coloquei esta parte para que entendam o porque da minha hilária história.

Bom, de posse da cópia do processo do reconhecimento em mãos, ela queria ir até o cartório onde ela foi registrada há 62 anos atrás, para retificar seu registro de nascimento. Até aí tudo bem. Pediu se eu ia com ela. Claro que disse que sim.Na verdade, já fazia um bom tempo que ela queria ir até aquela bendita cidadezinha onde o Judas perdeu as botas, o cinto, as armas e tudo mais.

Mas eis que esta semana então, decidimos ir até a tal cidade.

Aqui no Mato Grosso do Sul, tem muitas cidadezinhas perdidas por aí afora, e pra chegar até a maioria delas ainda é tudo estrada de chão, e põe chão nisso. Tem muita areia misturada a terra, então forma-se lamaçal grudento quando chove, aí quando seca fica aqueles morros em plena estrada e areia que não acaba mais, ou seja transitar nestas estradas é complicado. Bom, mas falei que ia levá-la né, aí ela fica como uma sarna, perguntando com sorriso maroto, enquanto degusta um cigarrinho que ela chama de chandelle...

__Que dia que nós vamos na Laguna?

Decidimos que íamos na terça feira. Na segunda feira a noite ela me disse que o irmão dela tinha oferecido o carro dele pra irmos, para que eu não precisasse ir com o meu, mas que tinha só um pequeno problema, ele não poderia ir porque tinha que trabalhar e a esposa dele, cunhada da Dona Iris, não tinha carteira de motorista. Sem problemas, eu disse a ela. Eu dirijo.

Prontas pra viagem, meu filho nos deixou na casa da cunhada que nos esperava toda faceira.

De posse da chave do bendito carro, entrei, e ela bem rapidinho entrou no banco traseiro e disse para a cunhada...

__Vai na frente com a Neusinha....

Aiaiaiaiaii, ela colocou uma bomba do meu lado. Eu devia ter desconfiado, porque ela vive aprontando!

Mas, pra mim tava tudo bem, tanto fazia quem ia na frente ou atrás, eu tinha mesmo era que prestar muita atenção na estrada, ainda mais que nunca tinha ido por aquelas bandas.

Saimos, pegamos asfalto por mais ou menos 25 kms e daí entramos na estrada de chão.

Meu Deus! Era feia demais a estrada, buracos, areia funda que chegava puxar o carro . A atenção tinha que ser dobrada para não tombar ou capotar o bendito carro.

Já na saida a cunhada começou a falar e falar e contar histórias de um e de outro, de pessoas que nem sei quem são, mas que ela queria por toda lei que eu me lembrasse de tal pessoa e assim foi indo até que a D. Iris, de vez em quando falava assim....

__Comadre (( elas são comadres)) olha lá um caraguatá!

__Aonde comadre_ respondia a cunhada .

__Ali, lindo amarelinho, uma beleza!

Perguntei então o que era um caraguatá. D. Iris me explicou que era parecido com abacaxi e que é muito bom pra fazer xarope pra tosse, etc... Essas foram as poucas palavras de D. Iris, no mais eu olhava pra trás, ela toda sossegadinha com a cabeça recostada no meu casaco de lã,que ela fez de travesseiro, olhinhos fechados e sorriso maroto nos lábios...

Eu não aguentava mais o falatório da bendita cunhada. E a viagem continuava tensa, policiais, carros parados sendo revistados, lotados de mercadorias do paraguai, pessoas detidas na beira da estrada, parecia coisa de filme. Em determinado momento fomos obrigadas a parar porque um carro tinha capotado e como a estrada é estreita não dava passagem.

Tinha um caminhão e um outro carro parado a nossa frente. Desci e fui ver o que estava acontecendo, nada de vítimas, só danos materiais. Abriram um espaço para que o fluxo de veículos fosse adiante.

Elas ficaram no carro e D. Iris aproveitou pra tomar mais um chandelle, em pé ao lado do carro, enquanto a cunhada já tirava suas conclusões de que de como o carro tinha capotado, etc...

Voltei esbaforida como sempre, com a chave do carro na mão, entrei no carro e vi que já tinha uma chave no contato e gente rindo dentro do carro, mas acho que eu estava tão atarentada com tamanho falatório na minha cabeça que nem percebi.

Olhei a chave na minha mão, aí virei-me e dei de cara com um homem dentro do carro, o que me levou a dar um grito de susto. Ele ria muito. A porta do carro ainda estava aberta e um homem me olhava rindo muito do lado de fora do carro.Olhei pra ele e perguntei...

__Que chave é esta?

Ele me respondeu rindo mais ainda....

__Deve ser do carro que a senhora está dirigindo porque este carro aqui é meu, ou seja eu entrei no carro errado, e só não dei partida, porque já tinha uma chave na ignição....rsss

Saí do carro e lá estava ela morrendo de rir, viu que eu tinha entrado no carro errado e se divertia ainda mais com isso.

Continuamos a viagem até a cidade, o que não demorou muito mais depois da minha gafe.

Chegamos lá, fomos ao cartório, fizemos o que era pra ser feito e em seguida já viramos de volta, antes que o sol fosse embora e pegássemos a estrada a noite.

Nessa altura minha cabeça já doía muito. O sol pegava de frente e não dava pra enxergar nada, devido a claridade e a poeira que cobria tudo. Eu alternava as mãos ora uma , ora outra para tentar tapar o sol, mas a boca da cunhada nada fazia tapar. Era como uma metralhadora que atirava por todos os lados. Eu falava comigo mesma..Meu Deus...fecha a boca desta mulher! Ela sabia da vida da cidade inteira!

Lá atrás mais faceira do que nunca, Dona Iris nem se manifestava. De vez em quando a cunhada, contava outra hsitória e como se para confirmar pra mim a veracidade do fato, falava assim....Né comadre?

E a comadre lá atrás só de olhinhos fechados, fingindo que dormia.

Pensei...Dona Iris me paga! Rsrs

Quando estávamos chegando na cidade de volta, a cunhada pediu que eu parasse numa casa que ela ia aproveitar pra cobrar uma conta.

Assim que ela desceu eu explodi........

___Dona Iris___que que é isso?Essa mulher fala demais! Não aguento mais, minha cabeça está estourando, graças a Deus que estamos chegando senão eu vou infartar!

Ela caiu na risada e falou assim...

___Eu sabia! Por isso eu falei pra ela ir na frente com você! E ria, ria, como uma criança arteira.

Mas ela ainda me paga por isso! Oh! Se paga!!!

rsrsrsrsr

Neusa Staut

19.05.2011

Neusa Staut
Enviado por Neusa Staut em 19/05/2011
Reeditado em 19/05/2011
Código do texto: T2979810
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