O dia em que o santo foi enganado

Eu venho de uma cidadinha, aliais, de uma curruteilinha assim de umas 30 casa, mais ô meno, isparramada na bera da federal que corta a paisage inté onde nossa vista arcança. Essa istrada vai se iscondê pur ditrais do “Morro Pelado”. O povo fala que nesse morro nunca deu planta ninhuma pur causa de que lá tem sombração, mais a verdade é que lá deve de tê muito minério, puis um dia vêi uns hôme branquelo e de sutaque isquisito, munido cuns aparêi danado de isturde pra mode analisá o morro. Só sei que fincaro um punhado de istaca tudo iscrita pra mode marcá o lugar.

Puis antão! A curruteila chama Quiabo Assado e fica muito, mais muito longe daqui, vai bem uas 15 légua, fica bem pertim de Berlândia... te agaranto qui num fica nem em Goiáis. Na verdade, essas vivenda fica no istado de Minagerais. Num sei se ocêis já iscuitô falá desse istado. Diz inté que ele quais disbarranca pra fora do Brasil - e óia qui o Brasil é bem mais grande qui Sumpaulo, heim!?

Antão! O povo do Quiabo Assado é uma cambada de gente que veve da lide da roça e das breganha na bêra da federal. Pra dizê a verdade, num é bem breganha, já qui êze gosta de tramá inganação pra riba de todo vivente que passa pur ali. Esse povo é tão veiaco qui quano fica muito tempo sem passá arguém pur ali, êze fica trenano treição cum êze mesmo, pra mode passá a manta no povo qui passa pur ali. Tem um tar de Regino qui trena inté cum a muié, fazeno di conta qui ela é gente de fora. Esse Regino mora arretirado do arraiá mais ô meno uma légua. Um dia, ele incontrô um fulano qui quiria comprá uma dúzia de ovo caipira. Aí, ele correu dentro de casa e incontrô só 11 ovo... puis o disgramado mais a muié num ispremeu a galinha pra vê se a danada guspia mais um?

O custume na roça é imbruiá o ovo na paia de mio, cumo a galinha num sortô o ovo, ele imbruiô os 11 ovo e botô num cantinho da sacola ua troxinha de paia vazia e sapecô o gorpe no home.

A vida siguiu inté qui um dia um cavalo baio qui ele gostava muito tinha sumido. Ele campiô esse cavalo inté num podê mais e nada do cavalo aparecê. Antão, ele deu o cavalo pro santo, dizeno qui se o cavalo aparecesse ele ia vendê o danado e dá o dinhêro pro padre.

Vai que uns 5 dia dispois, diz qui pur obra do santo, o cavalo amanheceu na porta da tapera dele. Cumo ele tinha prumitido o cavalo pro santo, mais qui dipressa lá foi ele pro arraiá pra mode vendê o cavalo, afinar o cavalo ele tinha promitido, mais não o pasto que o danado haveria de cumê inquanto tivesse ali no seu chão. Bão! Treitêro qui só, Regino pindurô ua galinha na garupa do cavalo e caiu na istrada, rumano pro Quiabo Assado. Lá chegano, pindurô ua praquinha cum preço de 90 conto no cavalo e uma de 1.000 na galinha. O povo achô aquilo tudo muito isquisito, mais ninguém deu fé de priguntá pur que.

Um tar de Dito era doido pra pissuí o cavalo do Regino e incontrô a ocasião:

_ Regino! Eu num tem nada cum isso não, mais essas praca num tão errada? Num era mió butá a praca da galinha no cavalo e a do cavalo na galinha?

_ Não sinhô! É assim mermo: o cavalo pur 90 e a galinha pur 1000. Mais eu só nigucêio se fô os dois duma veizada só.

_ Isquisito essa coisa sua. Mais, dêxa vê! Um cavalo mais ua galinha pur mile e noventa conto tá de bão preço. Num vô regatiá cocê, não. Passa pra cá os animar e tama mile e cem conto. Num quero nem trôco!

Saiu o Dito prum lado cum risão sastifeito e o Regino prôto cum risinho danado de sem vergonha. O Regino foi batê na porta da igreja, pidiu a benção do padre e deu prêle os 90 conto da venda do cavalo e inda vortô pra casa cum os 1000 da galinha e mais 10 conto de cumição da venda.

Pode um trem desse, sô? Passá a manta inté no santo???

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 13/06/2011
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