A histora da Barriguda

Um “diz qui diz” conta que Catalão é afamado pela brabeza de seus moradô qui num gosta de levá disafôro pra casa.

Uma dessas histora sempre atazanô minha cabeça indêis qui eu vim da fazenda Custódia pra morá na cidade. Eu era mininote de tudo, quano viemo praqui. Alembro qui moramo na casa das madre, onde hoje ixeste o mercado Bretas; ali, quais de frente da casa da dona Terezinha Margon. Adispois, cum a graça de Deus e o favor de meu avô Policarpo, zeladô da Escola Paroquial, nóis foi agraciado cuma casinha de adobro e rebocada de barro misturado cum bosta de vaca (Pra mode dá liga mió).

O vovô mais a vovô morava e cuidava da iscola. E pra nóis visitá êze, tinha de descê pela rua da Barriguda e sigui pra frente do campo do Crac e do cimitéro, passá na porta da casa do seu Chato (um home nêgo danado de alegre cum todo mundo). Mais ali, coladim na casa do Chato, tinha um cabuquim cum fama de tarado qui era o terror das nossa mininice e tamém dos cachacero, qui, diziam, sirviam di muié pra ele nas madrugada.

Bão! Nóis chamava essa rua de Rua da Barriguda pro causa qui tinha uma painêra bisurdo de grande e gorda e qui pissuia uns gaio que travessava a rua de um lado pro ôtro. Muitas das veiz nóis num gostava de tê de visitá o vovô e a vovó pra num tê de vortá de noite e passá pro baxo da dita cuja.

Pra num incumpridá muito a histora, até pruquê ninguém vai querê sabê muito da vida desse veio Clarindo qui num tem nada de muito vantagero, vô principiá a histora do nome da arve:

Diz os moradô mais antigo qui um fulanim marafonado da vida morava ali pur perto e tava discunfiado qui a sua muié novinha, bunita e danada de facêra tava tretano cum ôtro, ô ôtros, home, inquanto ele vivia na lide de bateção de pasto ou de tiração de leite nas fazenda aqui de perto de Catalão.

O certo é qui o tempo foi passano e ele foi isqueceno aquela discunfiança pur num tê pircibido nada de muito errado. Mais cabrêro cumo todo home é dispois qui bota coisa na cabeça, ele foi discabriano na mema tuada que a barriga da muié foi cresceno por força de tar prenhe.

Quano ela já tava pra pari, num é qui o marvado do home disandô a botá merda na cabeça cum tar de “esse fio num é meu... esse fio num é meu”?

Incafifado cum essa ideia na cabeça, o mardito passô bem uns cinco dia amuado num canto, sem querê sabê de tirá sirviço e só amolano uma pexerinha qui sempre trazia na cintura. De tanto istercá as ideia na cabeça fraca, o fulanim ingambelô a muié já quase parino, levô ela pra dibaxo da Barriguda e matô a coitada. Dispois interrô ela no pé da arve e se matô tamém, dexano um biête falano o pruquê do disatino.

Cum o passá do tempo, a arve foi tomano forma de muié grávida. Daí o nome de Barriguda que dero a ela. Mais o qui mais metia medo num é o fato de sê capaiz de tê um corpo interrado ali... Num era isso não, sô!

É qui o povo dizia que quem passava de noite pur ali, iscuitava o choro sintido de um nenenzim e, se oiasse pros gaio da arve, ia vê a alma da muié vistida de branco e oiano pra baixo cum aquele oiá de cachorro qui caiu da mudança. Diz o povo qui é pidino pra arguém cuidá do minino.

Essa é só uma das muitas lenda qui o povo daqui conta...

Eu nunca parei pra pensá se é verdade ô num é. Vai qui é verdade, eu parava lá dibaxo e essa muié dispencava dos gaio em riba de mim?

Xape!!! Chega corrê um arrupio nas minhas costa, mêmo dispois de véio e de num acreditá nessas bobagêra.

Se é verdade a histora, adonde ela foi morá agora, dispois qui a Barriguda caiu?

Lá em casa eu sei qui ela num tá. Bão... qué dizê... acho qui não, né?

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 13/06/2011
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