Caro amigo.
Nunca ouvi ninguém dizer que viu uma sereia feia.
Será que não tem? Ou sereia nunca foi vista?
Embaixo da água a maquiagem desbota e, então, como fica?
E aquela que tanto chorou que um riacho criou,
Ficou bonita ou o choro fez uma feiúra nela? Complica?
Sei não, é cada confusão...
Precisa explicar não.
Mesmo sem saber a resposta, bato em tua porta,
Somente para dizer que isso não importa nem tiririca,
O que importa é dizer que tua história foi muito rica.
Abraços


Com a frustração de rima aí de cima eu disse ao amigo Manuel Oliveira, o escritor, algo que sempre me invocou. Será que existe sereia feia? Será que não tem? Tem não? Ninguém nunca uma feia encontrou? Ou sereia é invenção da imaginação? Feia eu nunca vi. Belas há de todo jeito. Por isso, fico invocado. Tem do cabelo amarelo, do vermelho, do azul, do preto e do claro. Seja lá de que jeito for, curto, longo, em trança, alisado, liso ou comprido, são como princesas, sempre lindas e de ótimo biótipo. Pergunta-me que sereias são essas de que falo, é claro, te direi, do mundo encantado! 
 

Ariel, filha do deus Tritão, e suas parentes. Tem pequena, tem média, tem grande que quer ser gente. Na tela apareceu até em filme de capitão pirata.  Mas já vi também em pinturas, esculturas, desenhos e em carta. Tem uma em Copenhague que é a razão da cidade. Nos cartuns e na minha imaginação vivem até essa idade. Primeiro há uma explicação importante a ser dada. O fato de o Manuel escrever sobre uma tal de mãe d’água. A conversa em blog, com o contista, foi entre paredes. Sereia lá do agreste, quase sertão, que vivia na Mata Verde. Ela, uma Iara, sentada em cima de uma pedra, chorou de solidão. Mas chorou tanto que de suas lágrimas escorridas foram criados, então, todos os veios d’água da região. Quanta imaginação! Contista não é fácil não, conta tudo com emoção.
 

Sem desmerecer nem uma migalha, nem um tiquinho, o Manuel “crontador” por quem tenho tanto respeito e carinho, falo de outro escritor que pra mim é um rei. Foi meu professor, me ensinou muito de história da arte, que eu não sei. Como aluno, errei. Perdão ao mestre, pois nem sempre conseguimos aprender os ensinamentos. Falta de tempo! Mais tarde, em conversa sobre o tema, medrosa, porque voávamos alto por cima da Borborema, confidências, ele com medo de avião e eu também, disse não acreditar em Disney, sereia nem forasteiro também. Não por truculência, mas por pura convicção. Meu educador preferido gosta, com indomável imaginação, dos casos do sertão. Seu integral brasão. Não comunga de estrangeirismo nem de frescura. Por isso, Disney, pra ele, é porcaria pura
 

Assim, a referida por Manuel, não era a pedra do reino. Porque sobre Ariel não escreveu no romanceiro o meu dramaturgo preferido de quem falo agora. Deixou de lado qualquer personagem de fora, prestigiando gente da gente o que fez sem demora. Hoje, fico então na dúvida, rogando à Compadecida que me dê resposta, se sereia feia há na vida. Pois do jeito que a coisa tá, já-já tudo se enrosca, derrubando o demo, o santo e a porca.
 

Descrevendo as obras desse modo, quero crer que um dia o dono do Armorial, que diferente do Manuel da Mata Verde, nada falou de sereias, venha a me ler. E, se pela bondade divina isso vier a calhar, de tanta alegria meu coração vai falhar. No cinzento taciturno de minha lápide, escrito estará, presente em verso o amor e a morte e coisa e tal, como canto de mãe d’água sensual:


Aqui jaz feliz aquele que foi lido pelo Ariano Imortal.

 
MARCELO RUSSELL
Enviado por MARCELO RUSSELL em 04/07/2011
Reeditado em 25/06/2013
Código do texto: T3074097
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