"Sapeco"

Sapeco

Em nosso idioma local, o mantiqueirês, há uma palavra elaborada, complexa, de sentido amplo: “sapeco”. O seu equivalente mais próximo em português poderia ser “Deus me livre". Mas sem a riqueza de subentendidos e sabedoria que sapeco contem.

Tal reflexão me ocorre porque em nosso país, há não muito tempo atrás, houve a iniciativa de criar um termo semelhante ao nosso sapeco. Refiro-me a “cansei” (nada a ver com o idioma japonês). Não sei bem porque, mas cansei não decolou. É bem verdade que houve certo agito na internet e na imprensa. Mas a coisa esfriou. Talvez porque os criadores do cansei sendo comprovadamente integrantes daquela elite que se sentou em cima do Brasil e só cuidam de predá-lo ao longo de cinco séculos é gente que já nasce cansada e entediada, exceto quando excursionam por Biarritz, Monte Carlo, Punta del Leste, Las Vegas, ilhas do Caribe, etc.

Há anos, em seu programa semanal na TV, o Pe. Zezinho sistematicamente ensina que os sistemas políticos jamais mudarão a sociedade porque os sistemas permitem ao homem continuar a ser rancoroso, cínico, tirano. A sociedade só descansará quando o ser humano transformar seu coração como Jesus ensinou. Esta é a coisa mais importante para mudar o mundo.

Por acreditar nisso, se você, leitor, não se cansou de ler, com bom humor lhe digo em bom mantiqueirês mineralista (Mantiqueira, metade mineira, metade paulista):

Sapeco as balas perdidas, as doenças sexualmente transmissíveis e aquelas pessoas que nos cutucam e perguntam “e aí mermão?!”.

Sapeco a desnutrição, a multidão, a solidão, a corisa nasal, as doenças do coração e qualquer festival da canção.

Sapeco os bêbados manhosos que fazem confidências em nossos ombros.

Sapeco garimpar vinhos em gôndolas de supermercado.

Sapeco as licitações, a liberação de verbas de emendas, nossas pestes e maldições.

Sapeco dizer obrigado só por obrigação.

Sapeco o protocolo, o requerimento em três vias, as fotografias 3x4, a senha de chamada, o guichê onde atende a “funcionária” sarada e com bigode.

Sapeco a autoridade competente, que com a incompetente ainda há diálogo.

Sapeco a falsa humildade, a ira, a soberba, a gula, a luxúria, a avareza, a inveja, a preguiça e a mania de limpar o ouvido com a tampa da caneta.

Sapeco a ditadura, a cultura e reacionarismo do atual pontificado.

Sapeco os que querem o nosso mal e igualmente aqueles que só querem o nosso bem.

Sapeco os futurólogos-astrólogos os programas de aceleração, a superstição e tanta assombração.

Sapeco os pós-graduados-doutores e os nossos salvadores.

Sapeco os aeroportos e a possibilidade de colidir com um meteoro.

Sapeco o trem-bala a unir aeroportos. Já que to lá, vou de avião, uai!

Sapeco em nossos times os pontas que nunca cruzam para a área.

Sapeco o mérito desportivo do comitê da Copa 2014

Sapeco as secretárias saradas, as bravatas, as gravatas e as indicações para Conselhos.

Sapeco os protestos árabes por democracia...sei!

Sapeco os ministérios da Saúde, Transportes, Educação com suas fórmulas de administração.

Sapeco jogar peladas, exceto naquele jogo à luz mortiça com elas em pelo.

Sapeco escrever sem inspiração...