O Ensaio de Mario

---- Era um dia frio, Mario levava sua namorada para passear no shopping, pretendia comprar para ela um cobertor elétrico, com o qual passariam agradáveis e acaloradas noites juntos...

---- Mario! Pare de narrar as coisas que nós fazemos!

---- Mario não podia resistir, desde que havia feito sua inscrição para o concurso de contadores de histórias, tudo virava narrativa, Mariana sua amada, nem sempre conseguia compreendê-lo, mas, seu amor por ele cada vez aumentava mais.

---- Na verdade se você não parar com isso, estou pensando seriamente em arrumar um outro namorado que seja mais normal!

---- Mario não se intimidava com as ameças, pois sabia que nenhum homem no mundo poderia fazê-la sorrir da mesma forma que ele, ela o olhava com olhar indignado como se realmente pretende-se abandoná-lo no meio da rua, desejava realmente que ele parasse de narrar e conversasse como uma pessoa qualquer...

---- Chega! Me ligue quando voltar a conversar que nem gente!

---- Mariana se afasta lentamente, como se estivesse esperando que Mario corresse atrás dela e jurasse que a partir daquele momento iria parar com toda aquela narração, mas a narração era mais forte do que tudo, e tudo o que Mario pôde fazer foi observá-la se afastando ao mesmo tempo que percebia seu coração partir-se em mil pequenos pedaços ensanguentados... Ele agora falava sozinho, seus pensamentos reviviam cada pequeno momento feliz que teve junto com Mariana, milhares de pequenos narradores mentais descreviam cada pequena curva sensual de seu sorriso, cada sensação confortável que um beijo dela já havia causado em seu peito. Mario tirou o celular de seu bolso e rodeado por passantes curiosos com sua estranha e solitária narrativa, telefonou para implorar à seu amor que voltasse.

---- Alô?

---- Pelo tom de voz Mariana parecia ainda estar indignada com seu namorado, mas, Mario esperava que ouvir a sua voz no telefone dizendo o quanto a amava fizesse com que as coisas melhorassem um pouco.

---- Então, eu também tenho uma narrativa! Mariana manteve firme sua promessa de não falar mais com ele enquanto ele não parasse com esta mania estúpida de narrar as coisas e deligou o telefone!!

---- Desconsolado com o desprezo demonstrado por sua amada, Mario deixa cair o aparelho telefônico e luta para conter as próprias lágrimas, que insistiam em brotar de seus olhos, assim como... Os soluços que lutavam... Para... Estragar sua... Locução....

---- Quando então uma outra candidata ao concurso de contadores de história, que também não pretendia passar um mísero segundo sem treinar para o desafio do improviso, reconhece seu colega e resolve parar para perguntar se tudo está bem.

---- Mario sorri ao reconhecer o belo rosto da narradora que interrompeu seu choro desesperado, sentia vontade de convidá-la para beber alguma coisa e narrar os tristes acontecimentos do dia, mas, tinha medo de ser rejeitado uma segunda vez no mesmo dia.

---- O que ele não sabia, é que sua colega estava apaixonada por ele desde que o viu na fila de inscrições, mas, que por ser muito tímida, não conseguiria dizer isso abertamente. Agora, após presenciar a briga com a namorada, sentiu-se no momento ideal para se declarar.

---- Mario fica espantado com a velocidade que consegue trocar de uma emoção ruim por outra tão boa, adoraria narrar um beijo envolvente para dar um final feliz à história, mas, não conseguiria beijar se estivesse narrando, nem narrar se estivesse beijando...

---- A amiga de Mario, agora mostrando-se muito menos tímida do que se dizia, lembra-o que sempre é possível utilizar a narração no passado logo após um fato ocorrer...

---- Mario agora ensaia sozinho para o concurso na cama de um hospital, teria tido o melhor beijo de sua vida se sua namorada não resolvesse voltar no exato momento ou se pelo menos não tivesse um extintor de incêndio tão próximo para atirar sobre ele...

=NuNuNO==

(Que não foi narrado, mas, sempre esteve no espaço entre os pontos das reticencias...)

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 02/08/2011
Reeditado em 02/08/2011
Código do texto: T3135780
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