NUMA MESA DE BAR... ENGANO

-Troco.

-Depende...

-Depende de quê?

-Depende se você refere-se a troco de troca, ou a troco de troco.

-Pois não é troco de troca. É troco de troco mesmo. Cadê meu troco?

-Hum... Trago, né?

-Traga sim o troco, pois preciso ir embora logo.

- Não disse trago de trazer, mas trago de beber, do drink que você tomou. Troco por um trago de bebida, certo?

-Errado, não tem troca nenhuma. Quero apenas meu troco.

-Hã, está falando de que troca?

-Você quem disse que troca o troco por um trago de bebida!

-Não foi o que eu disse do troco...

-Foi sim, quando falou em troca.

-Tudo bem, falava do troco, mas não quis falar da troca.

-Queria falar do que, afinal?

-Do troco pelo trago de bebida sem troca.

-Como?

-Não sei. Mas se comer, não tem mais troco.

-Não é como de comer. É apenas como, o que, como isso?

-Isso o quê? Temos doces, salgados, petiscos, o que quer comer?

-Não é nada disso!

-Sinto muito, mas é tudo o que temos.

-Tá bom, esquece. Veja-me qualquer coisa e fique com o troco.

-Troco?

-Sim, o troco que era do trago.

- O troco que era do trago e que agora é uma troca.

-Hum... Então o troco vai virar troca, certo?

-Sim.

-Aham, eu sabia!

-Sabia o quê?

-Do troco! Seu plano era a troca, não é?

-Que troco, que troca, quer dizer... Que plano?

- Desde o início, queria fazer do troco do trago uma troca pelo que agora como!

-Que absurdo! Já chega, cansei disso. Saia!

-Saia?

-Sim, saia. Ou vai me dizer que não entende o que é “saia” também?

-Depende...

-Depende de quê?

-Depende se é saia de “saia”, minissaia; ou se é saia de SAIA, expulsando do bar um policial federal que antes de sair pode prendê-lo por desacato - de modo que você não SAIA mais da prisão...

-Não, o que é isso, Senhor... O troco por seu trago está me deixando numa saia justa... Deve haver algum engano. Tome, aqui está e mil perdões por seu tempo perdido.

-O que é isso?

-Seu troco, Senhor. Afinal de contas, um engano tão inocente como esse não vale a experiência de ser agarrado e algemado brutalmente por um policial, não é mesmo?

(...)

-Depende...