O CAIPIRA, O TROPEIRO E AS ÉGUAS

Quinzinho contado mais um causo:

Gente, tem coisa que acuntece cum a gente quando criança e a gente num isquece...Eu tava na iscola lá no Gamelão, e a professora deu um caderno prum minino e pra uma minina. A gente era pobre dimais e ganhava os caderno do guverno. Era uns cadirninho ruizinho, fôia marela, mais dava pra iscrevê neles...Aí o Tunico increspô:

-Fessora, meu caderno tem menas fôia do que o da Mariinha...

A professora raiô cuele:

-Essa palavra que ocê falô num ixeste, pode sê macho ô fema, a palavra é menos; Meu caderno tem menos fôia do que o da Mariinha...

Eu nunca isquici daquilo. Um dia eu peguei um jumento numa breganha e risurvi cruzá ele Cuma égua, pra tê um burro ô uma mula. Mula e burro é bão de sirviço e de sela, apesar de sê bicho genioso, quando impaca pode isquecê...

Cumo eu num tinha nenhuma égua boa de cria, risurvi pricurá um tropero meu cunhicido mode comprá uma égua dele. Ele sempre tinha umas égua ajeitada, ele era cunhicido pur Tião das Égua. Cheguei no sítio dele e ele me levô no pasto mode vê os animal. Eu vi uma purção de cavalo, burro mais pocas égua. Eu falei cuele:

-Uai Tião, dessa veiz ocê tá cum muito cavalo e pocas égua...

Ele respondeu sem pensá:

-É sô, dessa veis eu tô cumenas égua...

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