O Dinheiro Perdido

Nessas conversas “pós-jantar” minha mãe resolveu contar mais uma de suas histórias de infância (como eu gosto disso!) aliás, quem não gosta de ouvir as típicas artes do século passado?

Existe uma teoria, ou um ditado popular (isto realmente não vem ao caso) que diz mais ou menos assim: tudo acaba em bosta. E aquela conversa tão familiar, claro, não poderia ser diferente.

Experimente sentar com seus amigos mais íntimos, ou com aquele seu primo debochado, ou com o seu irmão boca suja pra ver se o assunto não acaba em bosta.

E foi isso o que aconteceu. Um dia a minha mãe, nos seus 7 ou 8 anos, saiu com suas primas e com a sua irmã, minha titia, e foram para a casa da minha bisavó.

A casa da minha bisavó ficava há uns quatro quarteirões da casa da minha mãe. As ruas estavam todas esburacadas devido às obras públicas de saneamento. Nem eletricidade havia ainda, década de 50! Estava escurecendo, detalhe de suma importância nessa história.

Tudo muito bem, tudo muito legal. Ruas escuras, crianças fazendo bagunça... Até que a minha mãe sentiu uma vontade incontrolável de fazer cocô, e como bem sabemos, criança desde que o mundo é mundo não controla o “bendito” quando bate à porta. Pois bem, não dava tempo e ela se virou como pôde.

Como a rua estava escura ela decidiu fazer o serviço ali mesmo. Pediu à irmã e às primas que fossem na frente, pois ela iria em seguida. E elas foram. Minha mãe não pensou muito, se pensasse ia se borrar toda, literalmente. Procurou um buraquinho atrás de um desses tubos monstrengos de concreto e fez a obra ali mesmo. Ela teve de ser rápida, pois alguém poderia passar.

Se a rua estava em obras, é porque existiam casas lá e pra minha vergonha, minha mamãe, a mulher que me concebeu, inventou de cagar em frente à casa de uma dedicada velhinha que apareceu no portão na hora “H”. A simpática senhora perguntou o que a minha mãe estava fazendo ali agachada e a resposta foi rápida e estratégica: “Eh... Tô procurando um dinheiro que caiu bem aqui...”.

Infeliz velhinha! Foi inventar de ser prestativa e afundou a mão no montinho fétido de merda. Olhou pra cara da minha mãe, que não sabia se ria ou se saia correndo e disse:

- Cachorrada lazarenta! Cagaram aqui na porta da minha casa... E olha menina, foi agora viu, porque a bosta ainda está quentinha!

A velhinha entrou pra lavar as mãos e minha mãe saiu correndo.

Depois que a minha mãe contou esse “fato” me veio uma questão prática: eu perguntei se não dava pra segurar, afinal não tinha como limpar. E ela respondeu simplesmente que não dava, pois antes só o cu sujo do que toda cagada. É, faz sentido.

Mariane Dalcin
Enviado por Mariane Dalcin em 15/01/2007
Reeditado em 22/02/2022
Código do texto: T348088
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.