O céu do poeta bêbado

Ontem, Marcelo Bad Boy Braga, e Denise Butterfly Matos, me desafiaram a falar sobre o céu dos poetas bêbados.

Confesso, não esperava por essa; mas, como dei azo através de um poema que escrevi, não consigo furtar-me; ‘Noblesse oblige’.

Como queremos saber sobre a Lapônia, entrevistaremos ao Papai Noel, digo, nada como um poeta bêbado para discorrer sobre o tema.

A coisa deu-se num sarau em Nova Bréscia, interior gaúcho. Depois de algumas poesias belamente declamadas, a palavra foi franqueada aos eventuais poetas que quisessem expor seus talentos. Então, acercou-se do microfone um, com visível dificuldade de se manter em pé.

- Boa noite! (hic) Na verdade nem sou mais poeta, mas já fui, dos bons... o tempo faiz cada coisa...(hic) Já tive pele lisinha como bunda de bebê, (gosto dessa palavra, não bunda, mas, bebê) agora, o tempo fez esse perrrgaminho com minha cara... não ria, você, bela jovem vai ficar assim como eu... não duvide da mão do tempo... Por falá nele, foi há muuito tempo, que tive um amor que embalava minhas poesias; ela era um encanto...tinha um olhar sacana, e coxas belas como aquela jovem da segunda fila, mais grossas, talvez; seios empinados como a moça que está servindo o chá – alguns risos disfarçados escapuliram- ela me amou por um tempo, os melhores dias de minha vida... mais, desejou outros versos...escafedeu... e me transformou num corno como a maioria dos presentes... -modere seu linguajar- advertiu alguém.

Desculpem, (hic) é que meus neurônios da censura estão meio anestesiados, e não funciona o freio da língua, (hic)

Quando era poeta como vocês, cuidava muito o que falava; Enfeitava tudo com palavras belas até os sentimentos feios... eu era fera... agora, beleza nem combina com o statuscó... além disso, o álcool não me deixa mintí... mais, pensando bem, até é melhor assim. Voceis é que são infeliz; têm que falá nas (hic) ‘ntrelinhas, dizê meias verdade, infeitá, um inferno... não sô dependente de estética, métrica, rima, opinião alheia, nada, foda-se...(hic)

Voceis pra falá a verdade carece uma jura,

Eu faço isso com dois copos de pura;

Vaçeis enfeitam veneno, traição, deserto;

Cobras renovando a pele no tempo certo...

Desculpem, às vezes ressurgem trasssos do antigo poeta; eu era delorido nos díssssticos...

Inferno é isso, embebedar os desejo e manter sóbrios os discursos, voceis são incoerentes... in-co-e-ren-tes...eu tô livre disso tudo, posso falá a verdade livre de censuras próprias ou alheias...as minha tão durmindo, as de voceis eu não escuto, (hic).

Voceis são falsos como o BBB, um “realityshô” de saradãos... a realidade mora na favela, pôrra, magra e banguela...Voceis são talentosos como o Paulo Barros para criar alegoria, deiz proceis no carnaval da poesia...

O melhor, que não tenho medo de rejeição, (hic), pois, não corro risco de ser aceito por nada nem ninguém...já disse, estão inativos os neurônios que enfeitam a verdade...Já fui cínico como voceis, agora sou bêbado, estou no céu... dizem que o inferno são os outros, um poeta bêbado incomoda aos outros e poupa a si, enquanto o sóbrio poda a si por medo dos outros;...voceis ardem no inferno da opinião pública...teenho dito (hic).

Um amargo silêncio tomou o ambiente, ninguém mais ousou declamar; vários saíram furtivamente e foram encher a cara.

Também saí confuso com vontade de beber, mas, as porras (desculpem) dos neurônios dos escrúpulos prevaleceram, me fazendo optar pelo inferno, mas, tem hora que vejo o céu aberto...