TÁ CANSADA...POR QUÊ?

Um fato bastante curioso do nosso dia a dia feminino é que, embora a vida em sociedade tenha progredido bastante nos últimos tempos no que diz respeito aos usos e costumes e nos direitos igualitários da mulher, me parece que os homens no geral custam a enxergar a dura atividade da mulher moderna.

Não sei se é um problema de refração das lentes ou se é falta de sensibilidade.

Claro, claro, alguém já pode estar deduzindo "lá vem essa mulher provavelmente feminista com aquele velho blá blá blá, mas eu garanto que não se trata disso.

"Não foi isso que pediram?"-outro alguém diria. Um alguém masculino, obviamente.

Eu respondo e garanto: não pedimos nessa formatação, fica o registro.

As mulheres que me lêem decerto já foram surpreendidas com a inquietante pergunta no final dum extenuante dia, às vezes vinda dos filhos mas principalmente dos maridos: "mas você está cansada, por quê"?

Aquela já famosa "síndrome da fadiga crônica" que a ciência descreve como possível mas a comunidade científica duvida um pouco dela na prática diária, ah saibam, é só ser mulher nos atuais moldes sociais para se ter certeza de que ela existe sim, mesmo que não sejamos cientistas.

De fato, por que haveríamos de, ao menos no final do dia, nos sentirmos tão cansadas? Deve ser mania de reclamar...e esse diagnóstico são os filhos que nos fazem.

Já os maridos sempre são mais sutis nas críticas. Eles sugerem no subliminar que não entendem nosso inexplicável cansaço.

Afinal, UHU!- é tão relaxante ser mulher!

Quem se cansaria em ser tudo ao mesmo tempo num clima tão aprazível?

Ser mãe super zen com seus pimpolhos que é para não atrapalhar a galera punk,ser- super -master- big e mega mulher e esposa e amante e eterna namorada e mais eternamente jovem, sempre na onda de todas as modas do tudo super fashion, ser sempre bem humorada e simpática, ser profissional bem sucedida lá fora e cá dentro de casa, obviamente sempre mais dentro, numa jornada de trabalho de folgadas doze horas para se tentar ser do tudo cada vez melhor, e de sobra ser motorista nesta cidade tão tranquila chamada "Sampa para os íntimos", neste ar de intimidade tão saudável sem nenhum poluente, sem aquela garoinha de outrora, num aconchegante cenário sem nenhuma violência urbana, nestas ruas de tão tranquilo trânsito onde todos são sempre muito corteses...

E à noite? Ah, à noite seremos uma criança descansada como a noite sempre é!

Nadinha de ouvir, "benhê, tá cansada...por quê?"

Ah, como é bom ser diuturnamente mulher moderna!

Eu , se fosse homem, não entenderia porque a mulherada se cansa tanto hoje em dia...por nada!

E para ilustrar o que falo, hoje vi uma muito jovem linda e energizada mulher exatamente com todas as demais qualidades citadas, e mais outras tantas que esqueci de citar mas que devemos ter...aos nada exigentes desejos masculinos.

Ela só parecia... um pouco cansada.

Ao lado dela um jovem..."senhor" talvez, penso que sim , deveria ser seu marido que a acompanhava no supermercado.

Tive dúvidas mas depois entendi do que se tratava.

Ela se atrapalhava um pouco para empurrar o carrinho, ver os produtos nas prateleiras, olhar e comparar os preços, optar pelo melhor deles, olhar as listas de compras, lembrar do que não estava escrito ali, passar os produtos no caixa, acomodá-los na sacolinha ecológica, achar o cartão de crédito, conferir a conta, pagá-la...e equilibrar um recém nascido no peito que esperneava para mamar sossegado.

De repente, ouvi aquele inadvertido jovem senhor tão amoroso lhe fazer uma perguntinha bem inocente, que foi a inspiração deste meu texto:

"Benhê, amanhã você vai fazer alguma coisa?

Quase dei a resposta no lugar dela, me segurei mesmo...

Mordi os lábios.

Claro que ela não iria fazer mais nada, logo deduzi. Ela era perfeita!

Simplesmente porque hoje ela já havia feito todas as coisas para o resto da vida de todos...menos da dela.

E quanto àquele jovem senhor, se me surgiu alguma dúvida, agora sim eu já podia afirmar com toda a certeza deste injustiçado mundo feminino: aquele era um... MARIDO! Acertei na mosca!

Não restam dúvidas sobre a espécie insensível do predominante gênero universal.