O "POETA" REVOLTADO

Durante meu programa semanal em uma das emissoras de rádio de minha cidade, tenho ouvido muitas reclamações de fazendeiros, sitiantes, ruralistas, a respeito do estado das estradas rurais. Eles me pedem para cobrar da administração municipal, melhorias nas mesmas, como: terraplenagem, cascalhamento, construção de valas pluviais, etc. Eu sempre cobrava das autoridades, mas como o prefeito só gosta de receber elogios, não gosta de mim, e eu também não morro de amores por ele, fazia ouvidos moucos.

Certa vez contei um causo para eles durante o programa, dizendo que se eles acham as estradas ruins agora, imaginem como era há 50 ou 60 anos atrás. O causo ficou famoso. Um caixeiro viajante, vendedor de remédios veterinários, visitou pela primeira vez nossa cidade, querendo divulgar uma determinada marca. Veio em uma reluzente camionete e ficou em um dos hotéis pedindo informações da região. Como era época de chuvas, foi aconselhado a não ir para a zona rural naquele veículo. Como as estradas estavam em péssimo estado, só se trafegavam nela veículos com tração nas quatro rodas, os atuais 4x4. Ele não acreditou e pegou sua mala e foi visitar os possíveis compradores.

Ao visitar seu primeiro cliente, um pequeno sítio chamado “Sítio do Pequi” na serra do Baú, caiu um temporal de fazer inveja ao Noé. E choveu, choveu, até que o pequeno córrego da região, transbordou e a ponte de madeira foi levada pela correnteza. Ele sem ter outra solução, teve que ficar hospedado na casa do dono do sítio. Os dias foram passando e a água caia em catadupas. Ele foi ficando desesperado, tinha uma meta de vendas a cumprir e estava ilhado na casa do sitiante. Preocupava-se também com sua família, não tendo como dar notícias. Sentia-se também incomodado com a situação, tendo que comer ás custas do pobre sitiante que com certeza não teria suprimentos para muito tempo. Dormia em um pequeno quarto junto com mais três crianças pequenas. E a chuva caia noite e dia, como se fosse um novo dilúvio universal.

Até que finalmente São Pedro ouviu suas preces e a chuva parou. O sol finalmente apareceu. Em regime de mutirão os moradores da região improvisaram rapidamente uma rústica ponte de madeira, para saírem do isolamento. O vendedor aliviado fez questão de pagar pela estadia ao dono do sítio, pessoa hospitaleira, que relutou em receber. A duras penas conseguiu passar pela ponte improvisada e chegar á rodovia, que também não era grande coisa, mas era pelo menos transitável. Na porteira do sítio, provando que o velho rifão é verdadeiro: “De médico, poeta e louco, cada um tem um pouco”, sacou de um canivete e entalhou nela uns versinhos que ficaram famosos na região, sendo durante muitos anos, uma verdadeira atração:

“Adeus Serra do Baú,

Adeus sítio do Pequi,

Se o mundo tem um cú

Com certeza é aqui”...

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