A MULHER DA ZONA QUE ATIROU NO CAFETÃO

Quando era criança, morava a dois quarteirões abaixo da zona boêmia de minha cidade. Muito curioso, ficava inteirado de tudo que se passava lá. Como em todo lugar, tinha os caftens, rufiões, proxenetas, gigolôs, que viviam da exploração do lenocínio. Tinha um deles que era famoso, vivia de explorar as pobres prostitutas e o dinheiro que extorquia das coitadas era dilapidado nas bancas de jogos ou em bebidas.

Além de explorador era violento, volta e meia agredia uma ou outra mulher daquela zona. Certa vez ele extrapolou sua agressividade, deu uma surra homérica em uma das mulheres que viviam sob seu jugo. Bateu tanto na mulher que ela ficou vários dias sem sair de seu modesto quarto de pensão. Ela jurou vingança: foi a uma loja da cidade que vendia armas de fogo e comprou um revolver 22 e farta munição. Pensou:

-Assim que eu o encontrar eu o pico na bala.

Certa noite ela ainda com o rosto inchado, pela surra, com dentes quebrados, entrou em um dos bares e pediu uma cerveja. Estava placidamente tomando a bebida quando o safado adentrou o recinto. Ele ao vê-la foi rindo cinicamente para seu lado. Ela sem titubear sacou da arma e descarregou-a nele. O sujeito parecendo um ralo, caia e levantava desorientado. Ela aproveitou a confusão para se mandar. Após certo tempo, conseguiram um veículo para transportar o sujeito para o hospital. Não havia médico de plantão, conseguiram localizar um médico que estava em um restaurante com sua noiva. Contrariado o medico ao saber o que acontecera, e conhecedor da vítima, sabendo que não iria receber, foi a contragosto atendê-la, afinal o juramento de Hipócrates falou mais alto. Deixou a noiva esperando e começou a retirar as balas. Para sorte do sujeito, eram balas de pequeno calibre que não atingiram nenhum órgão vital. Ele ia retirando as balas, fazendo suturas e colocando-as em uma cuba reniforme. Foi contando: Uma, duas, três, quatro, cinco... Aí ele falou com a enfermeira:

-Puta que pariu! Essa mulher não errou nem um tiro?

Ao retirar a sexta bala, doido para voltar ao encontro da noiva, disse para a enfermeira:

-Termine para mim que minha noiva está me esperando.

O paciente com a língua enrolada pelo efeito da anestesia disse:

-Doutor, tem uma bala dentro da minha boca...

O médico impaciente disse:

-Vai chupando essa aí, depois eu tiro ela, estou morrendo de fome...

* * *

HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 10/09/2012
Reeditado em 14/09/2012
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