* Era uma vez um andarilho que visitou uma cidade distante. Lá conheceu uma bela moça, duas semanas depois estavam realizando o casório na grande mansão dos sogros, local onde os noivos morariam depois de oficializar o compromisso matrimonial.
A noiva estava demorando demais para se vestir, auxiliada por duas costureiras, dentro daquele que seria o futuro quarto do casal.
O noivo pediu que a cunhada fosse ver o porquê da demora. Ela foi e não voltou.
Ele pediu ao sogro que fosse verificar, o homem também não retornou.
A situação seguiu repetitiva, já havia saído praticamente todas as pessoas da sala.
O andarilho decidiu descobrir porque todos saíam e jamais voltavam. 
Adentrando o quarto, ele testemunhou uma cena surpreendente. Cerca de quinze pessoas, incluindo a noiva, choravam copiosamente.
Não entendendo nada, indagou o que estava ocorrendo.
A noiva respondeu com a voz embargada:
___ Querido, estou com medo de ocorrer uma tragédia! Você vê esse lustre enorme pendurado no cantinho do quarto?
___ Claro que estou vendo! Qual é o problema?
___ Querido, pensando nos detalhes da decoração, planejei, quando a gente tiver nosso filhinho, colocar o berço do nosso rebento exatamente nessa posição. Se o lustre cair, o bebezinho morrerá! Oh! Imaginando tal possibilidade enquanto terminava de me arrumar, não consegui conter o choro. Todos que vieram aqui, depois que expliquei a triste coincidência de colocar o berço do nosso amado filhinho no local em que o lustre está pendurado, também se emocionaram demais com tamanho desastre.
___ Isso não te incomoda? Perguntou a sogra completamente aflita, mal conseguindo falar.
O desespero já dominava todas as pessoas as quais continuavam chorando sem nenhum controle.
O andarilho tentou em vão esclarecer que todo aquele sofrimento era estúpido demais, que eles pareciam toupeiras.
Decidiu zangado interromper a cerimônia e voltar a andar sem rumo. Pretendia conhecer novos ares.

Ele estabeleceu o seguinte:
Caso encontrasse três exemplos de burrice tão significativos quanto aquele, retornaria para finalizar o casamento com a noiva inteligente.
 
* Saiu andando a esmo, avançando, avançando, avançando...
Numa cidade bem pequena, escutou mulheres chorando. O barulho vinha de um riozinho próximo.
Nesse rio duas jovens aflitas estavam abraçadas gritando muito. Elas estavam com a metade das pernas cobertas pela água do rio. Uma buscava se apoiar na outra como se estivessem grudadas.
O curioso andarilho questionou sobre o motivo de tamanho desespero.
___ Moço! A gente resolveu refrescar o corpo. Entramos no riozinho e começamos a nos lavar. De repente percebemos que não conseguimos mais distinguir a quem pertence cada perna, não estamos conseguindo separar as pernas de uma das pernas da outra, por isso, na dúvida, preferimos ficar assim abraçadas. Desejamos muito reencontrar nossas pernas e sair desse  bendito rio. O senhor nos ajuda?
Entrando no riozinho, o andarilho se aproximou e “separou” as pernas das duas donzelas, desvencilhando as pernas de uma das pernas da outra, ajudando depois as moças a saírem do rio.
Logo pensou: Primeiro exemplo!
 
* Andou mais umas duas horas. No meio de uma floresta isolada notou um forte cavaleiro segurando um serrote como se pretendesse serrar a perna de um cavalo inquieto.
Quando confirmou que essa era sua intenção, o andarilho gritou indagando o porquê daquele ato insano.
O nobre cavaleiro mostrou um gigantesco galho de árvore caindo no meio da passagem. Montado no cavalo a cabeça do cavaleiro esbarrava no galho pendente. Precisando passar com urgência, ele calculou com precisão o comprimento que o impedia de atravessar, decidindo cortar o mal pela raiz, serrando a parte das pernas do cavalo equivalente à extensão constatada.
Imediatamente o bondoso andarilho o aconselhou a passar o cavalo primeiro sem ter ninguém montado, o cavaleiro obedeceu. Depois ele atravessou sozinho, montou no cavalo e seguiu agradecido por não precisar serrar as pernas do querido companheiro de viagem.
Pensou consigo mesmo o andarilho: Segundo exemplo!
 
* Após cinco dias de caminhada ininterrupta, resolveu descansar numa aldeia que encontrou. Desejava comer algo e dormir uma boa noite de sono.
Logo que amanhecesse, continuaria sua longa caminhada sem um destino definido.
Quatro horas da madruga, o sono pesado não impediu o andarilho de perceber um enorme alvoroço. Saindo de sua modesta cabana improvisada, notou todos correndo desesperados em direção ao leste; as pessoas passavam com vasilhas na mão gritando “Vamos!”, “Não esquece a vasilha!”, “Firme, pessoal!”, “Rápido!”.
Observou uma latinha jogada no chão, pegou e seguiu a multidão que andava acelerada demonstrando plena ansiedade.
Bastante confuso, segurando a latinha, nosso amigo decidiu parar uma jovem aldeã agitada que parecia estar atrasada.
 Após escutar a indagação, segurando uma panela muito comprida, a jovem falou meio ofegante:
___ Vamos, moço! Não podemos perder tempo! Estamos indo pegar o dia com a mão. Precisamos ir! Se a gente não vai pegar o dia com a mão, o sol não nasce, o dia não surge, fica uma eterna escuridão, pode até ser o fim do mundo!
Ela acelerou o passo buscando alcançar as pessoas bem mais adiantadas, ele ficou estupefato olhando o pessoal se distanciar, imediatamente concluiu que esse era o terceiro exemplo.
Largou a latinha, voltou para a cabana, pegou suas bugigangas e resolveu retomar os braços perfumados de sua ex-noiva o mais rápido possível.
 
* A festa de casamento foi incrível.
Ele convenceu sua amada a mudar o local onde seria colocado o berço do futuro filho, ela e os familiares ficaram, então, aliviados e sorridentes.
Depois do casamento, ele declarou que abandonaria sua rotina de andarilho, pois pretendia desfrutar um justo repouso e tentar conseguir um trabalho perto do lar, totalmente dedicado a sua esposa e ao futuro filho, agora sem nenhum risco de ser atingido pelo lustre do quarto.
A noiva mais os familiares aplaudiram a idéia, considerando-a muito sábia e inteligente.           
A aprovação geral deixou o ex-andarilho convencido de que tomou a melhor decisão.
 
E todos foram felizes para sempre.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 10/10/2012
Reeditado em 10/10/2012
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