Femen (nismo)

No restaurante, os dois acabam de jantar, depois de saírem juntos pela primeira vez. Ele faz sinal para o garçom trazer a conta, olha para ela, sorri. O garçom chega com a conta. Entrega a caderneta possivelmente com a conta dentro para ele. Que leva a mão ao bolso pra sacar a carteira. Ela segura o braço dele e puxa a caderneta.

- Deixa que eu pago.

- Oi?

- Deixa que eu pago. – abre a bolsa para procurar a carteira.

- Não. Que isso. – puxa a conta para ele.

Tenta sem sucesso tirar a carteira do bolso.

- Deixa eu pagar. – ela pega de novo.

- Não. eu faço questão. – ele pega.

- Mas eu quero pagar. – Está com ela novamente.

- Na próxima você paga. – De volta com ele.

- Se você não deixar eu pagar agora, não vai haver próxima.

Ele sorri, ela fica séria, o garçom fica sem entender. A caderneta fica no meio com os dois segurando como se fosse um cabo de força.

- Mas é a primeira vez que estamos saindo juntos. Não posso deixar.

Ela fica séria.

- Que tal se vocês dividissem? – sugere o garçom.

- Boa.

- Não se intromete. Me da essa conta.

Ele não solta.

- Você não vai me deixar pagar?

- Não. Não foi assim que eu fui criado. Fui ensinado que um homem sempre tem que pagar a conta no primeiro encontro. – fala a puxa

Todos os clientes presentes param de comer e começam a prestar atenção na discussão.

- Isso mesmo meu filho.

- Você foi criado como um machista, isso sim. Você quer ser o macho alfa. Quer ser superior, mas saiba que não é. O homem não é superior. Nós estamos provando isso, conquistando todos os espaços de vocês, provando que somos capazes de fazer qualquer coisa que você fazem, somos até melhores.

- Isso mesmo!

A mulher da mesa a direita deles levanta e comemora.

- você vai pagar a conta? – pergunta o homem que está junto.

Ela senta.

O gerente vem para saber o que está acontecendo.

- Posso ajudar?

- Mais um homem achando que pode resolver tudo.

- Ela quer pagar a conta. Ele quer pagar a conta.

- Por que não dividem?

- Hum, gênio! Se fosse pra eu pagar a minha eu tinha ido jantar sozinha.

- Não, mas agora quem não quer dividir sou eu.

O escândalo aumenta, os dois continuam no cabo de guerra, já derrubaram os copos que estavam em cima da mesa, os clientes começam a ficar incomodados, os que estava na fila de espera começam a se retirar.

- Então deixa que eu pago. Você não vai me comprar pagando a conta.

- Mas eu nem quero te comprar mesmo. E se tivesse comprado ia querer trocar.

- Sabia que você era assim. Acha que a mulher é um objeto, que pode trocar a qualquer hora. Típico do machista de hoje em dia.

O gerente intercede.

- Faz o seguinte. Fica por conta da casa. Vocês podem ir.

- Não, já falei que não quero um homem pagando nada para mim.

- Vai morrer sozinha!

- A dona do estabelecimento é uma mulher. – fala o gerente torcendo para que ele parem.

- Tem certeza?

- Sim, juro!

- Então eu faço questão de pagar.

- É uma mulher e um homem. – improvisa. – são sócios.

Os dois se olham. Soltam a caderneta em cima da mesa. Saem. Sem se falar. Na porta se separam, vai cada um para um lado.

O casal da mesa ao lado se olha. Pede a conta. O garçom prontamente tras. O cara segura, olha, ergue um pouco a bunda pra tirar a carteira do bolso de trás, a mulher segura o braço dele.

- Deixa que eu pago.

- Não, deixa que eu pago.

- O gerente não vai mais liberar a conta de ninguém e vocês dois não é primeira que saem juntos, já atendi vocês umas três vezes.

Afonso Padilha
Enviado por Afonso Padilha em 10/01/2013
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