Uma estória que poderia ser verídica

Os nomes foram criados para preservar a identificação daqueles que poderiam ser personagens desta trágica passagem.

Depois de longos nove anos trabalhando naquele escritório, Dunga, era um rapaz tranqüilo, de uma educação severa, risos contidos e uma timidez preocupante. Sempre em seu cotidiano, chegando as oito em ponto, pois sempre se gabou aos mais próximos de sua pontualidade, tinha em sua mesa, fotos dos carros que sempre quis comprar, um porta lápis, seu laptop, e pilhas de papéis para cadastrar. Tudo em sua vida ia bem, exceto um detalhe, que poderia passar desapercebido, mas que no transcorrer destes longos anos, sempre o perturbou.

Soneca, seu companheiro de mesa e ao qual fazia dupla no desenvolver de suas atividades profissionais. Ele era o cara, extremamente cortês, educado, boa praça, sabe aquele cara que a mãe faz um bolo simples numa tarde e ele separa uma fatia gorda, para satisfazer os colegas. Sempre prestativo, não tem tempo ruim, e acabou ficando famoso por ter trabalhado com quase 40 graus de febre, para não perder o prazo.

Era o companheiro perfeito, exceto por um detalhe. Soneca tinha o hábito de falar muito próximo, sempre segurando alguma parte do corpo, e como não poderia deixar de ser, diversas vezes salpicava a todos com "spray" de saliva. Não bastasse isso, infelizmente, ele tinha um mau hálito, desculpem, mas não irei economizar, o cara comia carniça no café da manhã. Todos do serviço, quando ele chegava, arrumavam algo pra fazer, para o chefe, era uma mão na roda, ele até fazia uso disso, quando notava uma certa aglomeração, pedia educadamente “de longe, claro” ao soneca que fosse pedir algo para um dos distraídos, e não dava outra, a máquina voltava a rodar.

Bom, se somarmos os anos, aos “probleminhas” do Soneca, você já deve ter feito uma ligação, de como o estresse tomava conta do nosso sacrificado Dunga. Não foi por falta de tentar, ele oferecia balas, comprou bom ar e deixou sobre a mesa, procurava matérias nos sites para a cura do mau que acabava com sua narina, mas o Soneca não captava, sempre dizia que isso era bobagem, não gostava de balas porque estraga os dentes, Bahhhh.

Um dia, o inesperado acontece, Dunga se dá conta, que são oito e dez e nada do Soneca, levanta, entra na sala do chefe e pergunta:

_ Mestre, cadê o Soneca?

_ Ele não vem hoje, foi resolver um problema particular, e como em 12 anos de empresa o cara nunca faltou, resolvi dar a ele o dia de folga.

Gente, uma avalanche de alegria tomou conta do corpo de Dunga, ele sabia que passaria um dia todo trabalhando sem ficar com torcicolo, por ter que virar o rosto milhares de vezes.

Dunga, sorria de uma maneira livre, conseguia depois de anos sentir o doce aroma do café que vinha da cozinha, por um instante uma lágrima inundou seu olho, e ele se emocionou. Foi o melhor dia de sua vida profissional. Ao final do expediente, se despediu, sem antes ser motivo de chacota, do Feliz e do Zangado, sobre o quanto ele tinha economizado de nariz naquele dia.

Mas queridos amigos, esta sensação de êxtase, virou depressão ao chegar em casa. Passou a noite em claro, bolava milhares de estratégias, como iria proceder, aquilo acabaria hoje, não iria mais agüentar aquilo nem mais um dia. Olhou seu relógio colecionar as horas, duas, três, seis da manhã, levantou fez todas as coisas de costume, pegou seu revólver, colocou em sua valise, e disse a sim mesmo, que hoje era o dia da liberdade. Chegou como de costume, no seu horário, entrou, sentou em sua mesa e esperou.

Logo chega seu inimigo, e vem diretamente a ele, com um sorriso na boca e solta um enorme bommmmmmm diaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh, ele abre a valise, mas antes de pegar a arma, Soneca lhe diz, tenho uma surpresaaaaahhhhhhh.

Dunga pensa, meu Deus, ele só usa palavras com a letra “a”, e num gesto rápido, Soneca lhe mostra um embrulho da padaria da esquina, e solta um: Seu almoço de hoje, grande amigo, fffffffraaaaaannnngo com fffffaaaaaaaaarofaaaaaaaa.

Isso foi demais, Dunga teve um mal súbito e caiu.

Desmaiou, e algum tempo depois, sentiu uma boca, empurrando o ar pulmão adentro, desejou por um instante que não fosse o que ele imaginava, abriu levemente seus olhos e viu, seu amigo lhe fazendo uma respiração boca a boca, e como não poderia deixar de ser, seu coração neste instante parou, e Dunga finalmente pode descansar.

O mito ficou no escritório, de que a verdadeira causa da morte foi a contaminação generalizada.

RRSabioni
Enviado por RRSabioni em 31/01/2013
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