'' A DISFARÇADA ''

Anita Disfarçada, foi assim que eu apelidei minha amiga de longa data a Anita Maria Tremembé no tempo que éramos as duas meninas-moças correndo soltas pelas ruas do meu bairro e tambem quando davamos um jeito pelas ruas da cidade e '' disfarçadamente'' pelas cidades adjacentes, Campinas, Vinhedo, Louveira e um dia fomos de ônibus até Jundiaí e pretendiamos um dia ir até a Rodoviária de São Paulo...num deu tempo, crescemos logo e rapidas, e esta aventura da juventude ficamos devendo.

Tomamos o ônibus aqui na Rodoviária de minha cidade, disfarçadas de quase moças usando perucas, saltos altos, óculos escuros que nos faziam ficar parecidas com duas abelhas rainhas de tão grande e largo que eram, claro!!!, escondiam nossos olhos, nosso medo de sermos descobertas e cobriam quase metada da nossa cara, batom vermelho, rimel, sombra e até ''ruge'' e borrocadas feito duas ''marvadas'' levadas da breca compramos passagem, embarcamos e fomos tagarelando e olhando a paisagem da Anhanguera e lá chegando demos uma volta na Rodoviária de Jundiai, compramos de novo a passagem e voltamos e nos trocamos de novo na Rodoviária daqui, colocamos tudo na mochila da escola e fomos para casa como se nada tivesse acontecido, achavamos que já eramos gente grande, gente adulta ou '' adultera '' como diziamos nós duas.

Nossas familias nunca ficaram sabendo de nada, a não ser meu pai...tadinho!!! o faxineiro da Rodoviária lhe disse que parecia que tinha nos visto as duas, achava que era mas não tinha certeza e coitadinho dele!!! na dúvida ficou, mas contou isto para meu pai que me interrogou e eu lhe disse a verdade, me orientou a nunca mais fazer isto, guardou este '' segredo'' e levou com ele para o túmulo, que Deus o tenha...adoroele, meu pai.

E foi por esta época boa da minha vida, e da Anita tambem, que eu de Anita Disfarçada a apelidei.

Era sempre assim...

Disfarça Mélia, dá uma disfarçada ai que lá vem '' trem ''.

"Trem" para nós duas era sempre sinal de encrenca grossa e feia, gente chata de galocha, meninos que não queriamos namorar, professores que pegavam no pé e principalmente a danada da ''menstruosa'', uma mistura de monstra menstruada, diretora do colégio, mulher medonha, parecia uma nazista de campo de concentração...horrorosa!!!

....e a implicância dela era sempre com nós duas, eu e Anita, parecia que quando ela nos via a loca se transformava mais ainda, fuzilava as duas pobres meninas-moças coitadas com cada olhar!!! e quanto mais reclamavamos para nossas mães, mais a danada nos perseguia dizendo que eramos duas diabas feita na própria fôrma de ferro em que o capeta foi feito...credo!! cruzes!!! que horror!!!

...tadinhas de nós, eramos tão boaZinhas!!...só vendo como era boasZinhas, só vendo e crendo, como ninguem via bondade nenhuma em nós diziam coisas horriveis sobre as nossas lindas pessoas e diziam que eramos, isto sim, duas boas difarçadas, e ainda por cima de primeira...vichii!!! faziamos nada, eramos duas coitadas...diziam que do pau ôco...sei lá!!! e lá vinham com...'' voces duas são umas difarçadas danadas, se fingem de boaZinhas mas ahhh!!! são nada, quem não as conhecem que as comprem ''...nunca ninguem nos comprou e nunca ficamos sabendo se ninguem nos conhecia , se não tinham tanto dinheiro assim para nos comprarem ou o quê? mas eu concordo, eramos duas levadas de boaZinhas disfarçadas..

Mas Anita tambem me colocava apelidos, de montão.

Amélia Fofoqueira era um deles e o que eu mais odiava.

Foqueira por que? lhe dizia eu, eu não tenho culpa se fico sabendo das coisas, se as pessoas vem e me contam e nem me pedem segredo o que mais posso fazer a não ser soltar a lingua?, que se não solto morro engasgada, e escuta aqui sua sirigaita marvada, olhe bem pra mim e '' iscuita'' o que vou dizer...não fui eu que cheguei em casa de madrugada acompanhada de braço dado com dois ''sordados''...foi a danada da Giselda e quando me contaram adorei saber e como não fui eu e foi ela que se fufe ela e não eu, eu não inventei nada, ela '' feiz'' e assim dá margem para todo e quanto cometário a cidade quiser....desaforo!!!

Gata mansa era outro apelido que falado pela boca dela eu sabia que era ofensivo...eu sabia porque quando assim ela me chamava era o mesmo que estar dizendo que eu era uma '' bisca que comia abacate'', portanto era o mesmo que me chamar de biscate, tinha um ódio quando ela dizia...'' vai, vai gata mansa, vai indo por este caminho e vais ver quantos buraquinhos vão sendo furadinhos '', eu entendia e partia prá cima dela com minhas '' verborragias'', ela ria, corria, fugia, porque se pego...esfolava viva.

Mas tanto ela como eu sabiamos ser disfarçadas.

Disfarçes era com a gente mesmo.

Faziamos cada cara que só vendo, como eu via eu sabia a cara que faziamos...minha mãe odiava quando isto acontecia, ralhava, dava bronca, de nada adiantava...eu e Anita eramos as melhores nisto, disfarçadas mesmo eramos nos duas.

E muitas vezes quando eu tinha um namorado, ou ela, e se eu tambem gostasse dele, ou ela do meu, acontecia o fatal...eu namorava ele ao mesmo tempo que ela e disfarçava o máximo que podia que nem o conhecia e ela, danada malandra, fazia o mesmo.

Até o dia que eu a peguei com a boca na botija atras da igreja encostada no muro que até buraco estavam fazendo tirando o reboco, cimento e até amassando tijolos de tanto amassa amassa...dei um grito e vi coisa que não deveria ver, mas ela difarçada que só ela mesma fingia que nem me conhecia e nem sabia quem eu era e foi se afastando logo dali de mãos dadas com meu namorado...alias, já era ex.

E um dia chegou a vez dela, fiz o mesmo que ela havia feito e pior, sai rindo e rebolando minhas cadeiras e ao olhar para tras vi quando ela uma pedra pegou e na minha direção atirou, a pedra não me acertou, acertou ele, ele virou e ela disfarçou bem disfarçado quem não havia sido ela que tinha atirado, apontou na minha direção, ele, um pobre coitado, acreditou...virou meu ex e dela tambem.

Mas eu gostava dele, e ela tambem, eu disfarçava que não o amava mas sempre que eu o via meu coração batia, batia mais forte que até Anita ouvia e eu ouvia o dela tambem, mas como eramos as duas, duas disfarçadas, uma sorria a outra ria e disfarçadas de amigas inimigas seguiamos juntas a nossa vida.

O tempo passou e a vida se encarregou de nos separar...ela casou, se encheu de filhos e diz que é feliz, eu fiquei solteira durante muito tempo e quando encontrei o meu amor verdadeiro já estava envelhecendo mas tambem digo e repito que sou muito, muito feliz....

Gata mansa!!! quanto tempo.

Disfarça, disfarça disfarçada marvada ..me chama de gata mansa aqui não....

E oce disfarça tambem disfarçada maledeta, me chama de disfarçada na frente desta gente não...

Risadas, só risadas...como é bom ser feliz.

Mesmo que sejam risadas disfarçadas...mesmo assim vale a pena viver e ser feliz...a vida é bela para ser desperdiçada por gente disfarçada de felicidade...como eu não sou, sou de carne e osso e bem na real....aquela, aquela disfarçada ficou lá atras, agora sou autentica e autencidada e até carimbada...e como sou!!!levei cada carimbada da vida para aprender a viver...se levei!!! mas dei cada disfarçada!!! disfarcei tanto que eu nem mais sei quantas carimbadas eu levei...gente disfarçada faz isto mesmo...disfarça, são espertas estas gentes disfarçadas..se são, são sim...tem dupla cara, dupla face, tenho conhecido muitos e muitas tambem..se tenho!!! mas agora não mais não eu sou disfarçada...sou não.

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 01/03/2013
Reeditado em 01/03/2013
Código do texto: T4166975
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