E assim, de tanto insistir com a minha mãe comecei a frequentar também uma escola de corte e costura.
Foi um corre corre da minha mãe para providenciar a matricula e comprar os materiais para frequentar as aulas.
E lá ia eu, na companhia da minha mãe é claro, com uma sacola enorme, contendo diversos tipos de réguas, tesoura, papel, fita métrica, e etc.
A minha primeira aula foi uma maravilha, a instrutora me ensinava como retirar as medidas e até aí tudo bem.
Prá mim foi moleza.
Sabia de cor todo aquele ritual. Ombro, busto, cintura, quadril e etc. Até ai estava aprovando o meu curso, pois aprendi com a Chica, de tanto observá-la a costurar roupas.
Nos dias seguintes era um tal de tirar medidas, medidas e mais medidas e já estava aprovada para a próxima etapa.
Colocar as medidas no papel, e foi bem aí que na minha mente aquela professora não sabia de nada.
Pois na historia das minhas observações nunca havia visto a Chica usar papel para fazer um vestido, ou seja, lá o que fosse!
E já fui avisando: a Chica não faz roupas assim, você está me ensinando errado, e em tudo eu colocava o nome da Chica. A minha mãe teve que ir até a escola, senão nem sei o que seria!
Depois de muita conversa, conversa de um e de outro, foi que aceitei aquelas explicações e até comprovei que estavam certas.
Minha preocupação agora era ir até a casa da Chica para avisá-la de que ela estava fazendo tudo errado.
Essa determinação me incentivava a aprender o mais rápido possível!
E assim as coisas aconteceram. Precisava dar um alerta a Chica, que iria ensinar prá ela tudo que aprendi, com o maior prazer, é claro. E como sempre acontecia, no fim da tarde, lá estava eu a caminho da casa da minha amiga do coração.
- Chica, a minha mãe me colocou na escola de corte e costura.
- Chica, você foi a qual escola?
- Não fui à escola nenhuma, aprendi sozinha, respondeu ela.
- Chica, a minha professora falou que não é assim que se faz roupas!
- Chica, porque você não traça o molde da roupa no papel?
A Chica não respondeu, lembro muito bem!
- Chica, você me deixa ensinar prá você como que a gente traça o molde no papel para depois cortar o tecido?
- Era só o que me faltava agora!
- Costuro a mais de vinte anos e agora vou ter que parar para aprender.
A Chica ficou meio brava com a minha insistência e eu mais nervosa ainda porque ela não queria aprender.
- Nunca mais venho a sua casa, sua mal agradecida e vou falar prá minha mãe para não trazer mais roupas para você fazer!
- A Chica foi até a cozinha tomar o seu café e fumar o seu cigarro velho! Aproveitei e fui até o baú me certificar se ainda continuava fechado a chaves.
Estava sim, mas agora ele não me enganava mais!
Dei um chute naquele baú velho e fui embora!
Em casa contei tudo prá minha mãe, pois me achava a dona da razão.
Não aceitei os argumentos e também decidi que não queria ir prá escola de costura nenhuma. Que eu iria costurar igual a Chica, sem papel porque era mais fácil!
E falei pra minha mãe que não queria ser costureira coisa nenhuma, para não ser chata igual aquela Chica velha.
No dia seguinte, depois que voltei da escola fui procurar o que fazer.
Fui consertar a máquina velha da minha mãe que estava aposentada num canto da casa.
Peguei a chave de fenda do meu pai, desmontei a máquina inteirinha, lavei as peças com sabonete para ficar novinha e costurar e qual foi a minha surpresa, quando montei a máquina sobraram metade das peças.
Agora eu precisava fazer tudo de novo e fiquei nesse monta e desmonta quase uma semana com a minha mãe no meu pé.
Não sei dizer o que aconteceu, por fim não sobrou peça nenhuma.
Os dias se passaram, fiquei um bom tempo sem aparecer na casa da Chica, mas as festas de fim de ano se aproximavam e imaginava o corre corre da Chica.
Decidi aparecer!
Aliás, bastava a Chica falar no meu nome e eu já estava lá!
 

Emedelu
Enviado por Emedelu em 26/03/2013
Código do texto: T4207896
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