VISITA A COITÉ DAS PINHAS

 

Pablo, um jovem da capital, foi visitar alguns amigos do seu pai, com a família, no pequeno interior Coité das Pinhas. Por sorte, no mesmo dia de sua chegada haveria o show do cantor de forró e arrocha Tayrone Cigano, a grande oportunidade de pegar umas matutinhas - que ficam enlouquecidas com os garotos da cidade grande -, principalmente se forem bonitinhos e malhados.

 

Passou gel no cabelo, vestiu uma calça da moda, um tênis Nike Shox e uma camisa que deixasse bem visível seus músculos definidos; para o toque final colocou umas borrifadas do perfume “atrai mulherada”: One Million. No seu íntimo pensou: “Hoje me dou bem, não tem pra ninguém”.

 

O show ocorreu na praça da cidade - e enquanto as bandas menores davam o aquecimento para o ápice da noite - as matutas gostosinhas se concentravam rebolando mais que largatixa com cãibra ao som do forró e arrocha. Pablo chegou de mansinho acompanhado do filho do amigo de seu pai, Rodrigo, que tinha aproximadamente a mesma idade que ele, e o apresentaria às gatinhas do lugar.


Entre uma latinha de cerveja e outra, o rapaz observava atento a todos os movimentos das garotas, aguardando a melhor hora de dar o bote, de abater carne fresca, apenas de primeira. Constatou um fato interessante, que o deixou mais animado ainda: existia muita mulher bonita agarrada com marmanjo feio. Para ele, aquilo era a visão do inferno; mas sentiu que já estava com a noite garantida. Não se conteve e comentou com seu colega:


--- Rapaz, tô impressionado, aqui tem muita mulher gata com uns caras mais ou menos. Passou uma ali agora muito linda, baixinha com as pernas torneadas, bunda grande, cintura fina, peitinho levantado, cabelo bonito e rosto lindo; já o ficante dela era muito horroroso, pior que o dragão de São Jorge, uma lástima.


Curioso, Rodrigo perguntou:

--- Quem é a moça? Talvez eu conheça.

--- É aquela ali perto da barraca de bebidas, com aquele monstro. Apontou Pablo.

        
Com o olhar pegando fogo, o anfitrião disparou:

 --- Ah tá... Aquela é a Talita, minha cunhada, e o monstro é o Rafael, meu irmão mais velho, que tava na casa dela quando vocês chegaram.


Totalmente sem graça, com a cara mais vermelha que camarão de vitrine japonesa, o jovem da cidade grande ainda disparou a pérola:

 

--- Eita, acho que ele puxou o outro lado da sua família, você é mais simpático.

 

Pablo, por pouco, não levou uma boa mãozada, mas aprendeu a lição: falar mal de alguém em cidade de interior é enfiar a cara na merda, pois todo mundo é parente ou amigo. Quanto a situação das mulheres com homens feios... A coisa está difícil para as coitadas em qualquer lugar, e em interior pequeno só a concentração é maior.

 

Os ânimos se acalmaram, o show da banda Mulekas Safadas começou, Pablo se atracou com uma nativa bem bonita e safada, e ainda inaugurou a moita por trás da Igreja - no ritmo do forró e arrocha - até quando Tyrone Cigano terminou de cantar. As visitas a Coité das Pinhas viraram uma constante para o rapaz, e sua boquinha linguaruda ficou bem fechada, para não entrar mosca, das outras vezes.


(Imagem: Internet)



 

Robson Alves Costa
Enviado por Robson Alves Costa em 09/05/2013
Reeditado em 12/05/2013
Código do texto: T4281799
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