A SAGA DO VESTIBULANDO E SUA MÃE MALVADA

 
Pela quarta vez Juninho tentava o vestibular de medicina veterinária. Desde pequeno, o garoto era um pouco preguiçoso para os estudos; repetiu a alfabetização 2 vezes, a segunda série 1 e a quinta série 2 vezes. E só conseguiu terminar o ensino médio através de propina paga aos professores da escola; quando concluiu já parecia um deles, de tão mais velho que era dos colegas de sala.

Cresceu sendo repreendido pela família: “menino, deixa de ser broco”, da mãe; “se não passar de ano leva uma coça”, do pai; “eita moleque tapado”, dos irmãos; e “esse garoto deve ser doente” dos tios. Juninho nem ligava, sempre repetia a frase: “Esse povo é muito estressado, estudar num é futuro pra ninguém, o negócio é ganhar na loteria.”

Aos poucos tomou jeito de gente; tentou o vestibular uma vez, mas levou pau; na segunda vez, pau de novo; na terceira, passou da primeira fase, mas no final levou pau. O rapaz já tinha cadeira reservada no cursinho, era o aluno mais antigo; seu apelido era Vovô.

No quarto ano que tentou o vestibular estava certo que iria passar. Depois da prova, chegou em casa feliz e sorridente, dizendo para mãe:

--- Coroa, agora vai, dessa vez a senhora vai se orgulhar desse teu filhão, vou ser veterinário.

--- Espero que sim, pelo menos vai compensar os gastos e o trabalho que eu já tive. Se seu pai tivesse vivo, nem iria acreditar no que eu estou ouvindo. Antes tarde do que nunca. Ainda bem que você está estudando e deixou de ser maconheiro.

No dia do resultado do vestibular juntou os amigos em casa; já estava com a festa preparada. Quando ouviram seu nome no rádio com a lista fornecida pelo seu cursinho, a felicidade foi geral. Rasparam a cabeça do moleque, melaram ele todo de ovo e maisena, o fizeram virar várias doses de caninha com mel, o abraçaram, pularam e começou a festa. O garoto, não tão jovem assim, gritava em euforia:

--- Passei, passei, eu sou foda, eu sou foda, eu sou foda.

Há anos seus amigos aguardavam este dia, pois todos já estavam formados, menos Juninho. Sua mãe ficou muito orgulhosa do filho, o futuro veterinário da família.

Mas, como diz o ditado, alegria de pobre dura pouco. Uma hora depois, sua irmã, que iria confirmar a aprovação no site oficial, viu uma nota do cursinho: “Pedimos desculpas e esclarecemos que a lista informada pelo rádio refere-se à primeira fase, assim, desconsiderem aquela, pois o resultado final publicamos agora.” A menina corre para avisar a mãe.

--- Não acredito, pois o menino levou pau no vestibular de novo, e ainda me fez gastar dinheiro com festa. Esse broco vai ter que me pagar, vou descontar da mesada dele pelo resto do ano. Deve ter combinado com o pessoal do rádio para me enganar. Daqui aqui a pouco vai ganhar um certificado do cursinho escrito: “Parabéns, está quase lá”. Oxe, parece até aquele povo indicado a prêmio a vida toda e quando chega na hora “H”, perde. Vou ter que benzer o moleque, isso deve ser encosto.

Dias depois Juninho recebe uma carta do cursinho: “Parabéns! Por você ser um dos nossos alunos mais fiéis, ganhou um ano de estudos grátis. O aguardamos para fazer a matrícula.”

E continuou a saga do pobre e eterno vestibulando... Estudando e levando desaforo de sua mãe. Na segunda seguinte:

--- Acooorda traste, vai perder o ônibus. Ainda quero estar viva para ver você formado. Eita moleque relaxado, desse jeito vai se especializar num animal só: o bicho preguiça.

(Imagem: Internet)
Robson Alves Costa
Enviado por Robson Alves Costa em 09/05/2013
Reeditado em 28/07/2014
Código do texto: T4282361
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