O CALVARIO DO ESCRITOR
Ultimamente, como todo escritor metido que se preze tento publicar a minha “obra prima”,um dia vou sentar ao lado do Jô Soares igual a Andre Vianco, esse é o sonho, cortado pela navalha da realidade nua e crua da vida, a sensação que eu tenho é que o mercado editorial brasileiro é uma armadilha para “jovens” escritores.
A maioria das pessoas hoje não lê isso já é um fato consumado, a não ser pelos modismos: “Tons de Cinza”, claro cada um com gosto que queira ter, porém o engraçado é que vende livro no Brasil, os “Tons de cinza” provou isso, com bom Marketing e uma ideia que atinge um grupo , fora dessa categoria os livros ficam na prateleira, na gaveta, na cabeça ou a venda em algum site na internet.
O mercado americano é competente e exportam suas porcarias a jato, com agentes e dinheiro, publicam no Brasil rapidinho.
Então ir direto as editoras grades é dar murro em ponta de faca, a maioria até recebe os originais, mas não lê, não responde ao autor, não se interessa,só se o cara for o Neymar e quiser contar a vida dele, ou um livro sobre corte de cabelo, tudo bem, agora um escritor?
-Porra meu! Escritor tem “pracaramba”, todo mundo hoje acha que escreve conto, larga disso. Sabe quanto é para divulgar um livro, livro hoje é mídia, caro, muito caro. – disse um editor
Vedada à publicação via tramites normais, o autor passa a pensar na sua “obra prima” de forma heroica e vai ao extremo da autopublicação, com algumas variáveis no mercado.
Ufa, o livro está na minha mão, revisão custou tanto, diagramação tanto, capa tanto, ou faço tudo de qualquer jeito?
-Cacete, eu mesmo faço essa merda, no youtube tem tutorial pra tudo – disse um autor.
Sou o máximo, dez livros publicados, todos autopublicação, vendi vinte de cada, já entrei para academia de letras?
Nem um único comentário no livro, apareceu um de outro autor pedido para ler o livro dele, coisas de desesperados.
Bom no meu bairro e na repartição as pessoas sabem que eu sou escritor e, é claro, elas comentam...
-Tá bricando...
-Cê escreve o que?
-Trás pra gente vê.
-Contos, poemas, nossa nem parece... É sobre medicina?O senhor é medico, não é –  disse um com cara de quem questionava nas entrelinhas: “então porque é escritor?”
-Quanto que é?
-Gosto de ler, assim que puder vou comprar.
Nos corredores alguém comenta.
-Puta que pariu, sabia que ele é escritor? – diz um – eu não escrevo merda nenhuma, ele escreve terror, daqui a pouco vira Zé do cachão.
-Já fui a um porrada de lançamento dele, estou meio de saco cheio. Porra é um saco, tem salgadinho, refrigerante e um punhado de gente, mas o cara é meu chefe, comprei três livros – disse o outro.
-E é bom?
-Não li ainda, a capa é bonita, são livros fininhos assim ó – disse mostrando com os dedos.
As coletâneas, antologias, bom passo pelas seleções, às vezes, tenho um conto publicado, um recusado e outro lapidado – tradução para “lapidado”: um texto que você envia para uma editora, ela vê potencial financeiro, esse vai ficar com muitos livros e manda de volta reescrito - , oito mil caracteres, toda a ideia apertadinha ali, outra capa, outra publicação, assim vai a minha vida de escritor, no calvário das digníssimas letras, engordando o meu ego e esvaziando a minha conta bancaria.
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 31/05/2013
Reeditado em 03/09/2013
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