Micos meus de cada dia que passei no Rio de Janeiro

Vida de nordestino não é fácil, quando vai para cidade grande então, nossa! Uma verdadeira loucura, comigo não foi diferente, sonhava ir ao Rio de Janeiro, então um belo dia vi a oportunidade de ir, e peguei de cara, chegando lá, nossa! Total deslumbramento, mas nem tudo foi tão perfeito quanto eu imaginava que seria, o período de adaptação foi complicado, e o engraçado é que sempre o paraibano encontra alguém para lhe dar uma mãozinha, só que ao pé do ouvido, assim que chego á casa do meu tio, encontro uma amiga da família dele, que de cara cismou com minha cabeça, eu com uma linguagem totalmente diferente, o paraibês, fui logo dizendo das coisas que levara para minha madrinha, veja só:

-Pia madrinha, eu trusse fejão macaça, jirimum, tem de leite e caboclo pra sinhora. A colega lá não aguentou, olhou na minha cara e disse:

-Ei Neguinha, tua cabeça é grande, de Paraíba mesmo, né jirimum? Tu deves ter matado tua mãe pra passar uma cabeça tão grande. Nossa! Aquilo foi terrível, mim achei a própria abóbora, então resolvemos sair a tarde, eu toda encabulada, sem jeito, mas topei o passeio, fomos para Piedade, casa dos parentes dessa amiga, então, eu lá, toda deslocada, com vergonha de falar, sem saber como me portar, se ficava sentada, de pé, sei lá, fiquei logo brava com um carinha que me apresentaram, que ao me cumprimentar pegou minha mão para beijar de um lado e outro do rosto, passou minha mão sobre seu órgão genital, eu quase dei-lhe na cara um belo tapa, mas assustada só pedia para vir embora.

A noite fomos á missa, ao andar cerca de 50 metros, minha sandália arrebentou, eu então falava muito alto, um hábito daqui, eu lá em plena rua gritei:

- Tio, minha percata torou! Nisso os vizinhos todos mim olham, sem entender o dialeto, coitado do meu tio! Envergonhado se aproxima e fala baixinho: - Não Bel, não é assim que se fala, você deve falar baixo e assim, minha sandália arrebentou, agora vá para casa e troque-a, ficarei te esperando aqui. Eu fui e em seguida fomos à missa.

No dia seguinte, fomos passear em Caxias, ônibus lotado, um cara com um com um mal cheiro danado nas axilas, eu quase vomitando, e por coincidência estava menstruada, e envergonhada, porque esse período nos deixa meio chata e cismada, a garota falava uma linguagem muito doida, eu nada entendia, então ela e minha prima, para não dar uma direta para o moço, falavam comigo:

- Oh jerimum, fecha as pernas aí. Eu constrangida falava:

- Ah para! E elas insistiam, repetindo a frase, nossa! Deu-me um desespero, uma aflição, chorava como louca, soluçava, de tanta raiva, pois eu interpretava ao meu modo, não conhecia que aquilo era uma forma de falar para o rapaz baixar o braço, mas tudo mim ofendeu muito, mas tudo bem, ao chegar lá no ponto, explicaram-me, e eu decidi que iria aprender com eles e ficaria esperta, pois já chorava desde que chegara lá, com a zoação das meninas com meu jeito, pois quanto mais eu me zangava, mais elas faziam brincadeiras comigo.

Porém não para por aqui, na semana seguinte, fomos a Quinta da Boa Vista, ao zoológico, nossa foi demais, em seguida esticamos o programa, fomos á festa da Penha, uau demais! Divertimos-nos que foi uma beleza, comi muita besteira, andamos em vários parques, eu me diverti muito, e meu tio avisando para não comer tanto pois, nos parques eu poderia enjoar e vomitar, mas eu nem ligava, comia tudo o que via, ao voltar, o ônibus dá uma volta enorme num anel que tem lá, acho que foram duas voltas, a primeira foi tranquilo, na segunda entraram uns rapazes suados que vinham de um jogo, imagina a situação, nossa, vomitei em mim, na minha prima, tava toda de branco, minha prima brava comigo, ao chegar no ponto perto de casa, andávamos uns 100 metros ate chegar em casa, as pessoas me olhando, aff! Que mico! Em fim passou.

Mas a aventura não acabou por ai, teve um dia, um calor daqueles que queimar o asfalto, chegamos ao portão de uma casa onde vi a figura de um sacolé, que aqui chamamos de dindim, bati, a moça veio, eu pedi um dindim, ela não entendeu nada, disse que num tinha isso lá não, a minha prima falou não é que ela veio do norte, lá é assim que chamam com o sacolé, daí a moça me vendeu.

Tem dias que levantamos da cama, mas não deveríamos sair de casa, que dia terrível, era véspera de Cosme e Damião, fomos tirar fotos ¾ da minha prima, para documentos, era em Cascadura, no primeiro andar de um prédio que tinha uma escadaria que saía para rua, subimos e lá só tirava preto e branco, então não quiseram, eu me adiantei para sair, tropecei no primeiro degrau caí de bunda e desci cada degrau, até sair na rua, imagina o barulho, todos correram para ver o que houve, eu cinicamente cruzei as pernas e disse:

-Ih, sentei! Todos riram de mim. Então seguimos com a viagem, fomos ao Meier, pegamos o coletivo perto de casa, uma senhora sentou junto a mim, perto do ponto levantei, e segurava no ferro da cadeira,o ônibus deu uma brecada que minha mão bateu no óculo da senhora, credo! Eu quase apanhei, ela ficou muito brava, minha madrinha é barraqueira, tomou minhas dores e foi uma verdadeira briga, quase que se bateram e eu morta de vergonha, tinha pedido desculpas, mas a mulher muito grossa mim agrediu, horrível!, Agilizamos as fotos no Meier e voltamos, chegando em casa, fomos comprar doces para distribuir com as crianças, voltamos á Cascadura, ao estarmos no sinal para atravessar a avenida, o sinal fecha e eu me adiantei para passar, estava na faixa tudo certo, mas vinha um motoqueiro minha prima me puxa, eu tinha pulado o bueiro, quando me puxou eu caí na boca de lobo, fiquei cheia de lama até a coxa, minha perna presa, com dificuldades saí, o sinal abre não pudemos passar tivemos de esperar, em seguida atravessamos e compramos as bala, todos mim vendo suja na loja de balas, fiquei na porta, não entrei, toda molhada a calça jeans, olhe foram cinco meses que passei no Rio, os mais inesquecíveis da minha vida, e digo a você leitor, os nossos micos de cada dia não são fáceis, mas adoro rir deles, aprendi muito com essa experiência, viu.

poetisa adorável
Enviado por poetisa adorável em 27/06/2013
Reeditado em 29/06/2013
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