UM SURTÃO NU SERTÃO

UM SURTÃO NU SERTÃO

Jorge Linhaça

Foi lá nu sertão escaldado

que essa figura apareceu

vestido de mil lençó inrolado

assim meio desengonçado

e uma fala que ninguem intendeu

me disseru que éra um surtão

lá dus deserto do saara

qui tinha vindu di avião

prá cunhece o sertão

i pude zoiá nossa cara

Mas esse tar de saarento

fico mermo arrodeando

qui nem si fosse o vento

as fia do zé baiano

qui já foi si infezanu

cum tanto descaramento

Era uns tar de salamaleque

e uns presente di ouro

tomou um passa muleque

por poco num leva um coro

pois nosso maió tesouro

as muié, ninguém num mexe

O rai do tar surtão

saiu no som das caçadeira

levantado um poeirão

que parecia um esteira

despinguelandu nas capoeira

dos canto du nosso sertão.

Garrou di panhã dipressa

o avinhão qui esperava

nem deu tempo di promessa

pois a coisa tava brava

si o Zé pegava capava

o tal cabra da mulesta.

Gora vô me arretirando

pois u causo eu já contei

desse cara bem estranho

qui achava que era o rei

mas parecia er um gay

assim cuberto di tanto pano.

Mai agora vo cheganu

pois preciso is pra praça

Butei perfume e fui ispainu

prá tirá o cheiro da cachaça

Pois num é que cai nas graça

das tres fia du zé baiano?

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