JOGO DE BARALHO

(Inspirado em um fato ocorrido na região, no início da década de 70.)

Em um boteco da cidade, toda tarde, reunia-se um grupo de amigos para jogar truco.

Naquela tarde de sexta-feira, a animação era maior, pois a turma estava apostando umas cervejinhas. Estavam presentes o Gumercindo, o Aristides, o Cantídio , o Bizunga e outros amigos. A animação era tanta que várias pessoas foram assistir ao jogo.

Tudo corria às mil maravilhas, com a gritaria que o jogo requer. Num dado momento, um dos assistentes disse que o Bizunga estava roubando, isto é, trapaceando o jogo. Foi o bastante para Bizunga levantar-se, partir para a briga com o acusador e dizer-lhe vários impropérios: f.d.p., chifrudo, canalha, etc. A turma separou a briga e o jogo recomeçou.

O rapaz atingido pelo palavreado do Bizunga retirou-se . Daí a pouco voltou, para surpresa de todos, com um revólver em uma das mãos. O alvoroço foi total : gente pulando pelas janelas, gritando e pedindo para o rapaz não atirar. Tudo em vão. O rapaz “sapecou” um tiro na barriga do Bizunga.

Assim que recebeu o tiro, Bizunga caiu debaixo da mesa, segurando a barriga com as mãos e gritando de dor. O atirador foi logo fugindo. Bizunga, pressentindo a chegada da morte, começou a pedir desculpas aos presentes pelas faltas que cometera na vida: - Compadre Cantídio, dizia ele, me perdoa, aquilo que o pessoal fala de mim com sua mulher, é verdade! - Amigo Aristides, continuava, aquela vaca sua que sumiu foi roubada por mim. E assim continuou, por muito tempo, pedindo desculpas para todo o mundo...

Bizunga continuava com as mãos na barriga, tentando evitar que o sangue saísse. Por várias vezes gritava:-“ Ô sede d’água!” Um amigo buscou um balde cheio de água e, toda vez que ele gritava, a despejava em sua boca.

A lenga-lenga continuou por muito tempo até que, num dado momento, surge, novamente, o rapaz que lhe dera o tiro. Todos se assustaram pensando que haveria mais tiro. Eis que o rapaz começa a rir, puxa o Bizunga debaixo da mesa e, com muito esforço, tira a sua mão da barriga.

O espanto foi geral. Não havia marca de bala e nem sangue na barriga do Bizunga. Aí o rapaz se explicou: - Fui até minha casa, peguei o revólver de brinquedo do meu filho, coloquei a espoleta e dei o tiro que todos ouviram.

Assim terminou a estória: Bizunga, muito sem graça, disse a todos que as desculpas que ele havia pedido eram pura brincadeira, que a sua comadre era uma santa, e que ele não havia roubado vaca nenhuma.

As dúvidas do pessoal ainda persistem...

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Murilo Vidigal Carneiro

Calambau /dezembro 2004

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 24/09/2013
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