O Circo Chegou!

Se existe uma coisa que não posso esquecer era da minha adoração por circo. Não sei como, mas eu era a primeira pessoa na cidade a saber que em breve chegaria um circo. A agitação na minha cabeça era a mil por hora. O circo seria montado atrás da Igreja, lá era o espaço reservado para os circos. E todos os dias antes de ir pra escola passava pela rua da Igreja para ver se o circo já havia chegado. Por sorte meu pai também gostava de ir ao circo, então podia ficar sossegada que não perderia os espetáculos porque meu pai nos levava e com as regalias de sentar nos camarotes.
Chegou o circo, agora o meu sossego acabou: primeiro aqueles caminhões lotados de coisas lindas, aquelas mulheres que pareciam umas deusas, os malabaristas, os palhaços e eu com aquele fogo todo para assistir ao espetáculo com direito a teatro e tudo mais. Por fim, o dia do primeiro espetáculo. Os personagens do circo faziam uma apresentação pelas principais ruas da cidade, apresentando a sua elegância e beleza tendo na frente dois palhaços com uns cinco metros de altura, que só depois entendi que eram pernas de pau.
Não consegui retirar do armário os nomes dos circos que andaram na minha cidade. Sei apenas que eram títulos pra fazer a gente suspirar de emoção principalmente eu que não tinha outro assunto. A minha mãe não era muito chegada a tanto reboliço criado pelas minhas fantasias, ela era uma mulher muito ocupada com os assuntos da casa e administrar seus filhos que eram na base das rédeas curtas. Com a minha mãe não tinha muito lero lero e se brincasse até meu pai era colocado na sua lista de rédeas curtas.
Mas nos acompanhava ao circo e se dependesse dela, lá ninguém colocaria os pés. E foi numa dessas vezes que nasceu dentro de mim uma fantástica ideia. A de ser palhaço. Meu pai que a tudo cedia era o cumplice das minhas confidências, mas por azar fui falar pra meu pai justamente na hora que minha mãe estava chegando: que meu pai fosse até o circo e me arrumasse pelo amor de Deus um emprego de palhaço no circo, senão eu adoeceria e nunca mais ia sair da cama! Só lembro que meu pai arregalou os olhos e não teve tempo nenhum de me dar uma resposta porque a minha mãe deu um pulo com quatro pedras na mão, chamando meu pai de alcoviteiro e me perguntando onde estava o meu juízo. Tive vontade de responder que estava no livro que ela mandou de presente pra professora, mas calei, senão o castigo era na certa. Mas, resmunguei e minha mãe tinha uns ouvidos que benza a Deus. Se uns nasciam surdos a minha mãe ouvia por dez. Apenas cochichei comigo mesma. “se não me deixar eu ser palhaço eu fujo junto com o circo”. E nem terminei de resmungar e a minha mãe já havia entendido com o seu costumeiro: Como é que é mesmo esta história? Nisto foi chegando a comadre que sabia de tudo.
Comadre! Abra o seu olho, essa menina não sai de lá do circo, arrumou umas amizades por lá e é bem capaz que fuja mesmo! E diante do ocorrido lá se vai a minha mãe me puxando pelo braço para entrar de circo adentro onde não tinha uma alma viva pra ela dar o seu aviso. Metade do circo já havia partido e só restavam alguns homens retirando as lonas e as arquibancadas e lá se foi o meu sonho de ser palhaço que se evaporou em menos de uma semana.
 
 

 
 
 

 
Emedelu
Enviado por Emedelu em 27/09/2013
Reeditado em 27/09/2013
Código do texto: T4501153
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