Consulta arregaçada.


               -Tem duas horas que estou esperando lá fora, isso aqui não é de Deus doutor, uma pessoa que tiver que morrer, morre esperando lá fora – disse o paciente de um metro e noventa, forte, com várias tatuagens e queimado de sol que mancava do joelho direito.
               Dr. Olavo Passos Santos Lemos, clinico geral, sobrepeso, cardíaco e com uma dor de ouvido sinistra que atacava a sua labirintite, já tinha passado dos sessenta, naquele dia não estava para conversas longas, fez a receita de paracetamol e entregou para o paciente, entre dentes com um: “pronto, está liberado”.
               -Que é isso? - perguntou o paciente.
               -Sua receita – disse Dr. Olavo.
               -Assim tão rápido, nem disse o que tenho? Não colocou aparelho, não fez exames, nem falei nada...
               -Então fale – disse o Dr. Olavo tirando o óculos e colocando sobre a mesa, pegou a receita de volta, ouviu um “ah, bom”.
               -Estou com uma dor na coluna, sou alérgico a injeção, não posso ficar no soro e não fui trabalhar hoje, preciso de um atestado – disse o paciente.
               -humm...., já acabou?
               -Já.
               Dr Olavo entregou a receita de volta.
               Neste momento solene, quando o paciente está preparado para dá uma porrada no médico, uma pessoa, de forma abrupta e estabanada entra, o indivíduo sorriu, era uma senhora gorda e ofegante, parecia aborrecida, delicadamente mandou o segurança tomar no cú, chamou de filha da puta uma enfermeira e disse aos gritos que entraria na consulta com o seu filho de qualquer jeito.
               Entrou dizendo, depois de fechar a porta.
               -Desculpa doutor, o Lucimauro é meu filho único, então preciso acompanhar, ele tem palpitações, dor nas costa, trabalha em uma fábrica de chapa de ferro, coitadinho, ele pega muito peso, já estourou a coluna aos 25 anos – disse a senhora.
               -Esse médico estava me destratando mãe..
               -Calma meu filho, tenha paciência com o sus – passou a mão na cabeça do filho e disse olhando diretamente para o médico - pediu algum exame, você falou da sua coluna? A coluna dele só melhora com remédio forte.
               -Vou encaminhar ao ortopedista... - Olavo quis falar alguma coisa.
               A mulher arregalou o olho para o Dr. Olavo.
               -Como é ? O senhor esta sendo um péssimo médico, o atendimento está ridículo, um ortopedista? Só daqui a dois anos, o senhor é clinico ou não? Acha que vai liberar o meu filho sem o atestado e sem pedir nenhum exame? Não vai mesmo, chamo a polícia - disse a mãe.
               Pegou o celular e discou 190.
               -Polícia – falava ao celular - quero dar queixa de uma omissão de socorro, um médico muito bruto....Qual é o seu nome e o seu CRM?
               Uma pessoa entrou na porta, técnico de enfermagem, enquanto isso Dr. Olavo ouvia tudo, impassivo, quando o técnico de enfermagem reconheceu o paciente.
               -Caralho, não me diz que é você Luciomauro? Puta que pariu esse cara é um grande surfista! Me ensinou tudo o que sei sobre surf. Não me diz que você vai para o campeonato amanhã? Não posso, estou trabalhando, já pensei em arranjar um atestado....- E depois virou-se para o médico – doutor, na emergência tem um travesti que tentou se matar com criolina.
               Olavo saiu correndo da sala em direção a emergência, mas ainda ouviu o técnico de enfermagem dizer.
               -Porra meu, você está sarado, tá tomando bomba?
               Na emergência um travesti vestido de noiva e fedendo a criolina, esse não era o dia de Olavo.
 
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 21/11/2013
Reeditado em 21/11/2013
Código do texto: T4580179
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