O Apego Aos Bens Materiais

Já passavam das 3h30 da madrugada de domingo, quando o jovem casal voltava da balada. O motorista iniciara a manobra para entrar com o automóvel na garagem, quando um sujeito corpulento encapuzado, todo vestido de preto, aproxima-se da janela do condutor apontando um revólver e ordena de modo impaciente:

_ Aí, saiam do carro agora e nem pensem em reagir, senão eu mando chumbo, entenderam?

O motorista sai do carro calmamente e, depois de pedir à esposa que fizesse o mesmo, pondera:

_ Fica frio, parceiro, nós não vamos reagir. Diga, o que você quer?

_ O negócio é o seguinte, meu chapa: eu vou levar a sua mulher.

_ Por favor, Roberto _ a mulher desespera-se _ não deixe esse bandido me sequestrar! Mas o facínora, agora mais paciente, esclarece:

_ Não dona, eu não vou te sequestrar. Aliás, no que depender de mim seu marido nunca mais a terá de volta.

_ Socorro! _ gritou a mulher histérica _ ele vai me matar.

Roberto, o marido que tinha a arma apontada para a sua cabeça, indagou confuso:

_ Mas por que você quer matá-la?

_ Não falem asneiras. Seria um desperdício total matar uma mulher gostosa dessas _ e olhando maliciosamente para a jovem apavorada, o criminoso explicou-se:

_ O meu maior sonho é constituir uma família grande de criminosos. Quero ter uns oito filhos e educá-los no mundo do crime. A senhora é muito bonita, dona; vai servir perfeitamente, pois tem jeito de ser boa parideira.

_ Não deixe ele me levar, Roberto, eu te amo! _ A mulher começa a chorar copiosamente.

_ Ah querida, eu também te amo. Porém, amo mais minha casa, meu carro importado, celulares e minhas correntes de ouro. Não consigo me imaginar vivendo sem alguma dessas coisas. Portanto, se você realmente me ama, faça isso por mim. Vá com o homem, meu anjo, e aceite o seu destino. Eu ficarei bem, prometo!

Resignada, a mulher retira um lenço da bolsa, enxuga as lágrimas e, olhando para o bandido que a esperava, observa:

_ Bem, já que iremos formar uma família, precisamos pensar desde agora no futuro dos nossos filhos. Vamos levar o carro e as correntes de ouro desse otário, certo?