Ela adorava patos...

Metido a conquistador...

Trocou seu ganso por um pato e ainda deu duas galinhas de volta.

Segundo soube um pato era o sonho de consumo da Rosa,

uma mulata tipo passista de escola de samba.

Só em vê-la já ficava de pernas bambas.

Como pra ele os fins justificavam os meios, mesmo

sabendo que não, em sua cabeça morava a convicção

de que fizera uma boa troca.

E foi correndo entregar o presente fazendo no coração,

comemoração antecipada.

- Ah hoje eu como essa gostosa!

Ela o recebeu sorridente e toda dengosa.

Ao ver o pato deu pulinhos de alegria:

- Ai que lindo! Que encanto! Presente pra mim?

Como você sabia? Eu não mereço tanto!

Muito obrigada!

Ele só esperando que o papo progredisse,

que ela desse uma deixa, melhor agradecesse,

convidando-o para entrar, por exemplo.

Mas o que ela disse a seguir foi como se lhe

jogasse um balde de água fria.

- Volte outro dia pra gente trocar uns dedos de prosa.

Ele quis argumentar, esticar o papo, mas uma

timidez repentina o calava diante daquele monumento.

Mal conseguia gaguejar.

- Um abraço. Mais uma vez, obrigada!

E foi entrando abraçada ao quac quac.

Entre decepcionado e com um fio de esperança, afinal ela

havia dito volte outro dia, só lhe restou ir embora

E para aquele dia não terminar totalmente sem graça,

lá foi nosso Don Juan de araque pro boteco

se consolar na cachaça.

Lá, depois de umas cinco ou seis doses,

se abriu, contou pros amigos da sua desilusão.

- Xiii, tu também caiu nessa esparrela?

- Chora não, tu não é a primeira vitima.

- Por baixo já contamos mais de trinta.

- Pato é a segunda coisa que ela mais gosta.

- Mais pato é tu que o pato que tu deu pra ela.

Querendo mostrar macheza bateu o copo no balcão.

- Comigo não! Acabo com a raça dela!

- Sossega o facho, homi! – aconselhou alguém.

- Tu sabes quem é que tá morando com ela atualmente?

- Não sei nem quero saber! Acabo com ele também! -

disse todo valentão.

- Acaba, não. O macho dela parece um trator.

- É o Mário Estivador, um negão deeeeeesse tamanho!

- Brincando faz de você picadinho.

- Agora com certeza estão lá rindo com seu pato na panela.

Injuriado mas sem nada poder fazer continuou a beber,

enfiou o pé na jaca e foi embora carregado.

Uns três dias depois está lá ele na rua, adivinha quem vem vindo?

Sim, a Rosa. Acompanhada do tal Mário Estivador,

seu negão de dois metros em meio.

Ela fingiu que nem viu.

Mas o Mário viu. E bem visto e

quase nariz com nariz foi dizendo:

- Vai vendo!!! To de olho! Fique esperto!

A voz do negão soou mais forte que um trovão.

Ele gelou, tremeu, até procurou um buraco por perto.

Se pudesse cavaria um. Só não saiu correndo porque

as pernas não obedeceram e pra não ficar mais feio.

E como fofoca é coisa que se espalha rapidinho

logo lá estava ele na boca do povão.

Hoje por onde passa sempre tem um engraçadinho:

- E aí Zé do Pato, o Mário já te comeu atrás do armário?

= Roberto Coradini {bp} =

27//11//2013