Carta a Papai Noel (para Junya Paula)

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Rio de Janeiro, Natal de 2013.
 
Querido Papai Noel,
 
    Eu sou aquela professora de Jacarepaguá que no ano passado o senhor disse para colocar o sapato na janela que viria com o presente no trenó da meia-noite e cá não apareceu. Tudo bem que roubaram seu trenó na Linha Vermelha, mas bem que o senhor poderia ter vindo voando, como nos filmes de Hollywood. Resultado: levaram meu pé de sapato e eu agora estou andando só com um pé calçado, fingindo que o outro está machucado.  Como sou uma boa menina (os rapazes sempre dizem isso quando estou de minissaia ou de biquíni na praia) não quero fazer certas acusações, mas é que a minha vizinha do lado de vez em quando sai com um pé enfaixado e calçando um sapato parecido com o meu. Quando ela me vê, noto que fica apreensiva e nervosa. Mas deve ser só coincidência.
 
    Sempre fui paciente. Paciente até demais, mas o senhor está passando dos limites. No ano atrasado o senhor exigiu uma lareira na minha casa para poder levar meu presente como manda a tradição.  Apesar do calor de quarenta graus que faz aqui no Rio de Janeiro, construí a bendita lareira, para gozação dos meus amigos, e não recebi patavina de presente nenhum. Pelo contrário, tive que cair na mão dos agiotas para pagar a conta da construção. Tudo bem que o senhor disse que ficou entalado, mas quem mandou engordar feito porco em semana de abate!
 
    É triste, papai Noel, esperar um presente que nunca chega. Se não fosse pelo meu pai, que sempre me deu presentes na sua falta, eu seria uma pessoa frustrada. Revoltada. Meliante. Quem sabe, traficante até. A minha mãe, uma santa mulher, era quem me consolava, sempre encontrando uma desculpa para a sua ausência.
 
    Este ano decidi que não vou mais esperar nenhum presente seu. Que se dane você e suas renas afeminadas! E sua risada idiota que mais parece ronco de porco. Já ganhei muitos presentes nos amigos secretos que fui obrigada a participar. O que preciso agora não é mais de boneca ou de tiaras douradas. O que quero e necessito o senhor não pode me dar porque descobri que você carrega um saco de brinquedo. Quero ser a mulher fatal. Quero sapatos vermelhos e calcinha de renda. Quero ser a abelha rainha e o direito de matar meu zangão depois da cópula. Quero mel, o néctar da perpetuação das espécies, quero o gozo cósmico dos deuses na criação do Universo, quero o esplendor único do primeiro nascer do sol.
 
    Em suma, papai Noel, eu quero um macho que divida o aluguel, a conta de luz, da água e me ajude a lavar os pratos.
 
    Tudo bem, eu retiro a parte dos pratos. Vai encarar ou vai ficar aí me olhando feito idiota?!

Por Tom Torres