ATIRE A PRIMEIRA MOEDA

Na cidade tudo era bonança, até um dia surgir um boato bem interessante.

-Já ouviu dirzer no porço dos desejos?

-Poço dos desejos?

-Sim, tão dirzendo por aí que tem um porço aqui na cidade que é só ocê jogá uma pedra que o desejo se realirza!

-E onde fica o tar desse porço?

-Vem cá qu'eu te mostro.

Os caipiras caminham até o poço e avistam uma multidão de gente formando fila para jogar moedas no poço.

-Eu dirsse!

-Puxa, num é que é mermo!

Um olha para a cara do outro e discutem.

-O que ocê vai pedir pro porço?

-Eu num sei não...

-Como assim? Nóis que virve reclamando de tudo, que farta isso, farta aquilo... e quando surge um porço que realiza desejos nois num sabe o que pede?

-Hum...

-Já sei! Vamo orvir o que os otros tão pedindo pra ter mais o meno ideia.

Eles se aproximam das pessoas e ouvem seus pedidos.

-Eu desejo... um bote pra atravessar o rio.

-Eu desejo uma vaquinha, porque a minha vaquinha manteiga moreu e num tem mais de onde tirar leite de vaca.

-Eu desejo um carro importado e um elecópter.

As pessoas pedem várias coisas, até chegar a vez dos dois caipiras.

-Eu desejo...desejo... é melhor ocê ir primeiro.

-Eu desejo... um computadô...

-Um compu oquê?

-Ora, um computadô! Sabe, aquelas máquinicas que são bem intelegentes.

-E pra quê ocê vai pedir isso?

-Ora, pra... pra usar o farcebook!

-O farce o quê?

-Não iencher!

Ele atira a moeda para dentro do poço e chega a vez do amigo pedir algo.

-O que que eu desejo?

-Sei lá! Pede uma carocinha de buro que sempre foi teu sonho.

-É mermo!

Ele faz o pedido e joga a moeda.

-E agora? Cadê meu computadô?

-Carma Zé, carece de esperar um dia pra se realizar!

Um dia se passa e eles retornam ao poço. Quando chegam lá há uma multidão de pessoas e parecem estarem indignadas com algo.

-O que horve aqui compadre?

-Este mardito porço que não realizou nossos desejos!

Todos reclamavam, pois nenhum desejo havia sido realizado, eles então resolveram esperar mais algum tempo e depois de dois dias voltaram ao lugar, mas todos diziam a mesma coisa de antes.

-Nenhum, nenhum desejo rearlizado. Tem argo de erado com este porço! Será possíver?

-É mesmo Zé, tem argo de erado com o porço.

-Já sei, vamo analisá ele por dentro.

O caipira acende uma lanterna e amarrado à uma corda desce até o fundo do poço. Ele grita lá de baixo:

-Acho que achei arguma coisa!

Quando percebe um homem sentado no canto com um balde, recolhendo as moedas.

-Pera aí! O que ocê faz aqui no fundo deste porço?

-Eu... a ideia foi toda do Zé Chico, que me mandô aqui pra barxo pra catá os dinhero do povo!

Eles sobem a corda e o caipira mostra o homem para as pessoas.

-Óia só pessoar oque eu achei lá no fundo!

As pessoas ainda indignadas discutem.

-Ora Zé, nois tamo mermo preocupados com os pedido. Este porço é rear ou não? Nois pede tudo que é coisa e a droga desse porço num rearliza nada! E esse moço aí? Será que ele pode nos explicá por quê não ganhamos nada? Por que nossos pedidos não se rearlizaram?

O homem, orgulhoso, olhou para aquelas pessoas inconformadas e lhes disse:

-Olha, vocês eu não sei, mais com a quantidade de moeda que eu catei dos troxa... eu fiquei rico!

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 29/01/2014
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